acho é tão bonito dizerem por aí
"ai, que me falta a inspiração!";
esse verbo gostoso que nos serve às artes e aos fôlegos.
quase me dizem: "ai, falta-me ar!"
delirando efeminados quase em desmaio.
estão ofegantes dalguma corrida de suas horas
ou mesmo asmáticos: quase nem respiram
sufocando no ar-mesmo que nos entorna, líqüido.
e seus prazos pesados, bolas de ferro,
lhes afundando num oceano de irrespiradas,
um oceano de poeiras velhas sugando-lhes o ar:
os prazos expirando, e expirando mais e mais,
já sem brisa nenhuma que lhes acorde.
quase se ouve o silvo triste do ar que escapa,
pelos furos largos nunca tapados - mas dói tanto!
chegar um dia em que expirem completos - o prazo final:
os alvéolos fechando a quaisquer instintos ávidos que se lhes acometam
sem inspirações: sem respirações: sem energia
os Seres da Expiração, das cuspidas e faltas de ar;
cambaleando expirantes e resfolegantes. inspirem!
se para gritar as idéias bonitas,
que lhes requiram as inspirações profundas, cheias,
então, ó vejam: era bom engolir mesmo o mundo!
embriagar os pulmões de vida!
gritar as almas que se nos entulham a fala;
um grito tão forte que invada as bocas dos outros
um grito que irrompa em respirações beijo-a-beijo
um grito de beijos e vida aérea.
o ar talvez seja feito de cheiros e sabores,
e o pulmão lingüístico só pulsaria belo nos discursos.

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