eu estava andando pela música e ouvindo o chão

andando de olhos fechados, como escrevo de olhos fechados agora
escrevendo de olhos fechados, andando de olhos fechados,
o fio da realidade me soando tão mais frágil, se requebrando todo
(quase parece aquelas folhas de árvore que se atiraram no vento
e ficaram presas num fio de teia de aranha: congeladas no ar)
tudos já se mesclando: e de 'onde estou' é tão bonito
(e não ver o que é escrito: é quase falar)
andar no tempo de olhos fechados

hoje eu corri
sem ver o mundo: cerrado nestes eu-mesmos
e normalmente assim passo contando os segundos e os passos
brincando chegar a um limite, manter a conta, medir..
mas não, dessa vez não; haha
abdiquei das réguas:
estava a música e ela se foi me tornando mais real do que o chão que me pisava os pés.
e logo minha pele ficou manchada de som em várias partes
e eu sabia que as matérias de que me fazia eram muito calafrios e arrepios rítmicos percorrendo os meus pêlos
e meus movimentos todos delineavam uns outros universos
que cada músculo se afinava instrumento
e a música ia saindo era do meu própro corpo:
estou incerto instrumento musical e gaguejo!
e nada dos meus passos estarem é caminhando pela rua,
contraindo carnes feitas de sólido, ah não:
os tais sólidos e frios me eram um bonito poema
a que escutava com minhas orelhas acústicas
lá das terras do aéreo e do sonoro
invertindo a relação, se me tornando ponta-cabeça
ruído enorme me invadindo as cabeças, como um exército
que é para metermo-nos a caminhar naquelas estradas
(ah, que nem consigo falar: estou mais preocupado em me dançar e espasmar do que no descrever; que diabos! haha)

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