Um et pousou na terra
mas ele era muito pequeno.
Pousou no meio de um rio
de formiga: dá licença, da licen-
ça, ele não se dignava a gastar
arma laser com formiga, preci-
so chegar ao presidente do es-
tados unidos! mas onde estará e
aquele papo de levem-me ao
seu líder só funciona nos fil-
mes, meses passando e ele já 
casado e com filhos formigas,
barba mal-feita reclamando da
conta de luz sendo que formiga
nem tem tecnologia que tempos
são esses.
e vou dormir ou
fico fazendo coisas
da mais alta importância?
eu giro mal o tempo,
viu? pregar o olho, para quê
se posso ficar aqui lamuriando
qu'estou com sono?
a poesia como
sair de férias
lavrar o inútil
retirar objetivo da ponta
do verbo 
como quem retira baioneta
mastigar o verbo
como um chiclete
não chegar em lugar algum
só obviedades
e zona de conforto
eu mereço. é o melhor que
faço agora. já cumpri meu dever,
não já? as coisas que a gente se inventa...
tudo bonito
e banhado em muita luz
sair de férias e do tempo
o silêncio
onda batendo
barco sal a vela branca
brilho por todo o azul dobrado
e o azul lençol cobrino
realizando muito
e meu filho é lindo
tudo belo e muito iluminado
cheio de muita luz
μεγάλα φοτισμένα
kaváfis
foi bom hoje ligar à graça
que atendeu à primeira chamada
falar de rabanetes
e da grécia
no entretempo de tanta vida corrida
abrir espaço para reencontrar a verdade
as belas formas
queria fazer aula dum instrumento
não pra aprender, só pra distrair
como falei à cabeleireira (uma análise,
um ouvido, um palco)
que delícia era pintar
(era desenhar modelo vivo no méxico)
era meter-me em placas de tinta
era praticar o inútil
tudo tão útil hoje. tantas ambições
me inflando como um balão
cheio de brinquedos, de apostas,
de desafios que de teimoso assumi
Conversar com leo me leva a revisitar aqueloutro andré (e daí marcar-me distinto, mais cínico, mais desiludido...) realmente o que faz o passar dos anos, hoje o mendigo me pediu comida e eu alinhado de passo rápido, ser anarquista não seria diluir-me inteiramente em dádivas? leo fala de dirigir-se às crianças ignorando as hierarquias nucleares, mas omessa essa aposta em infiltrar-se nas grandes torres, perder seu romantismo e se aceitar engrenagem, parte do problema, e tentar fazer o quê que nem sei, inventar sonhos nessa catedral do Estado. Como influir, realmente? canso-me do RJ, mas é uma boa questão o RJ, e lembro lopreato falando d'eu invocar o Brasil todo, como queria, mas sempre subordinado a entender o RJ, sem querer alçar-me a falar de tudo, que seria excessivo. Está bem, mas como influir, realmente? A política oficial, é uma pena afastar-me dela, mas também um alívio? É um caminho distinto, é um caminho que eu talvez inda volte. Mas não agora, agora é falar mal do agronegócio, falar do Brasil e da América Latina, falar grande, que sei eu, ganhar espaço em debates. Conhecer muitas gentes, coordenar e saber fazer isso de letra enquanto estudo coisas. É isso ser anarquista? Surfar posições, com visas a quê? Ah que sei eu, mas também, sem lembrar esses grandes idealismos, não sou inteligível. Sou inteligível, afinal, quem é - os outros parecem muito, com questões muito burocráticas e irrelevantes. Já leo, realmente, será - com sua gaveta infinita, hoje tentei uma aproximação desinteressada, sem tanto idealismo da publicação - eu que solto ideias todas ao vento, e livros não-publicados tenho por falta de edição, já que sei o pós-trabalho - e leo falando de já ter sua estrutura e só ir preenchendo, em uma disputa até sua morte, valha-me. Será possível contorná-lo, será saudável (para mim o esforço, para ele a exposição, para nossa amizade essa tensão agora que estamos num equilíbrio profícuo)?
hélio em pézinho apoiado dá seus passos pro lado e quando acho que vai cair, ele se senta espertinho, num domínio completo do engatinhar. é um barrilzinho mesmo, o garoto é um tronco, ele é todo durinho, todo denso, cheio. um saco rijo de vida nascendo e crescendo sem parar. e quando vai pra frente, sem domínio das dimensões direito, só vai pra frente e pode capotar fácil, mas se o chão é macio na cama no tapetinho ou por cima de mim e dela, ele só vai capotando tropeçando e indo sem parar, até seu objetivo. e quando o objetivo sou eu? ele vem com tudo querendo ficar em pé ficar me abraçando se acolhendo em mim.

voltar à altura

deixar o nariz se deixar vibrar quente e o céu ir descendo, o topo do mundo ir descendo sobre mim sobre tudo. como eram aquelas conclusões obre a necessidade de uma filosofia que limitasse o universo ao que sinto? a única filosofia honesta sobre o que posso perceber
só existe o agora e o imediato, só existo pelo meu corpo
toda apreensão da existência que se imagina ultrapassar isto, na verdade ainda está presa nisto. quando imagino o mundo estou me imaginando maior ainda, estou imaginando na verdade ser imenso e ter o mundo à minha frente, esse modelo. recusar a capacidade de me imaginar escalas maiores ou menores: é o modelo. preciso lembrar que o mundo é o imenso (imensurável) que se estende pelos horizontes, e tentar apreendê-lo passa muito mais por lembrar o que está atrás dessas paredes, o que está abaixo desse chão de apartamento, me situar novamente dentro do mapa escala 1 pra 1... aqueles exercícios...
porque subir numa montanha e ver grandes distâncias, é vê-las mesmo. dá a ilusão de sermos imensos como a montanha 
volto à questão da altura, como a dimensão sagrada que foi escondida. subir, descer.

 they tell me

a fina flor da madrugada
o deleite puro do estar consigo
que vida bela sonho em estar aqui
a sensação boa de realização
o som das teclas pulsando sob meus dedos
reencontrar uma paz de dar ao mundo o que ele pede de mim
e quitar esse desejo imenso que vem de fora
e então estar livre
para ficar teclando
e dançando
radiohead
ouvindo o mesmo cd
e balançando 
curtindo demais o baixo
e as vozes
e escrevendo tonto
quantos anos depois?
vício do número (eu gosto)
sem nunca entender a letra hahaha
(a própria livi falou ah então andré tu és esse cara que dinamita uma ação coletiva põe as pessoas pra trabalhar e eu fiz mwahahaha. que coisa boa ter atraído ela.
isso que o joão vaz bêbedo disse: tu és o nosso líder
eu puto da vida (apaixonado ele disse) atacando com erros e insatisfação
acreditando as questões serem urgentes)
que pessoa eu sou né? 
acredito muito em enfim manter esse bastião sagrado
esse lugar só meu e do meu entorno
minha intimidade muito sincera
odiar demais o palco
e a fama
e enfim ainda assim aceitar, usar, mas mantendo um diabo vivo
isso não é o caminho, gente
foi tão louco ler paulo freire ontem. e não citar nominalmente por achar piegas
mas ficar lendo e me inspirando e pensando. e usar os termos educação popular, comunicação popular. tentar usar os conceitos na prática: exibir preocupações com que as pessoas não estão acostumadas
trazer um debate universal e metafísico para uma realidade que as pessoas não esperam, acostumadas com o dia a dia mesquinho da vida pequena
e eu invocando deuses
como um mago
um mago endiabrado que se sabe mero canal de deuses
e consegue conjurar o fantasma do ego
e trazer o canal de energia suprema
o fluxo de vida forte que jorra ao ser atravessado
quando eu te amo e você me ama somem sujeitas e só sobra (soçobra) o verbo
(cuspindo rapé, escrever cuspindo e tomando cachaça)

insonia saudosa do soumim

bebendo como o velho combustível
falta ouvir radiohead de olhos fechados
e imaginar alguma epifania
e sem isso?
e quando eu deletar essas primeiras linhas?

e quando sobra o tempo, as brechas
uma gotinha de tempo
uma insônia, já que eu desisti de dormir
e daí o que faço
fico tentando pescar pegadas de quem eu sou
de quem eu era
de quem me acostumei a ser
e se eu mudar?
e se eu deixar aqueles sonhos?
estranha liberdade, não por alcançar a lua
mas por pensar noutra coisa...

quem sou então? sem o projeto
de aumentar e publicar os fragmentos
é que me tornara então um grande filósofo
um artista em construção, a promessa
em meus muitos caderninhos
e agora que me enchi
e só vejo tudo como: produção
produzir lentalíssimamente oh meu deus que demora
são dias e dias, tudo é cotidiano
tudo é um imenso cotidiano sem sobressaltos
boto o hélio para dormir e não durmo, fico me revirando
vou tomar cachaça pra ver se me entrego
vou escrever, no teclado; vou digitar palavras, palavras
quebrando linha sem critério

queria mexer uma matemática bem doída, só pra me relaxar
aprender a linguagem simbólica de carroll? acho que é mais burocracia, do que difícil
mas seria legal (bota aí na lista)
acho que estou escrevendo pouco. é bom digitar a esmo aqui nesse espaço
sem muito objetivo. ah estou poluindo
o grande legado do soumim, referência de tantas gerações
com esse desabafo maleditado... mal dito...
o tempo está passando, eu trabalho bastante todos os dias, todos os dias eu trabalho bastante até bastar... o que estou construindo, tomara que seja bom.
estou um tanto sozinho? em que aspecto? nessa insatisfação quem sabe
por que eu não dormi hoje? por que me deixei levar pelo insone?
acho que fumar mantinha uma ilha desse passado, quando tudo o mais dele já tinha ido
e agora fica isso, essa ausência...
talvez porque to trabalhando demais, ralando demais, é bem doido isso, tenho muitas metas. a gazeta ser linda e séria, publicar a sério, o faoro a fundo, e ficar forte e bem, erguer minha casa, a família...
algo sozinho? talvez porque sem vida social, sem ir beber no bar com o amigo, e poder me identificar com alguém... tenho colegas e amigos queridos. mas sou diferente, ao diabo: no que sou, em meus poderes; e na trajetória, as mordidas que carrego, as heranças
aqueles tantos fragmentos de ideias... o sonho de que um dia vou formar o maldito vaso...
Minha fábrica de biscoito
doutora biscoitinho
anda muito barriguda,
mesmo!
eu lhe aperto as batatonas
bombeando pro churumingo
e dou de cara com
um balão bem cheio
e seu umbigo na ponta
bicudo
então eu dou olá pro meu filhinho
redondo ali dentro
com seus chutinho bobo
toc toc quem está aí
até ela soltar dois pum seguido
e eu sair ganindo pegar
as meia de compressão
(que é minha vingança)

Para descer

descobri
no fundo do meu ombro
que estava sempre ali
- num túnel duro, num
buraco de agulha que nunca se fecha e
que na verdade
era por onde ela respirava -
lá do outro lado dessa pele-osso-eu,
espremida entre as placas de eletricidade
entre os dínamos de leão
e a massa atômica
a caldeira, o motor-mundo
a fera e as jaulas, as grades, os dentes:
sim 
minha alma minúscula

como um pequeno andré
um serzinho, homúnculo
migalha de gente
ali ficou presa, embalsamada

Passaram-se séculos
como muitos cobertores
num dia frio, pesados
e a dureza da busca de um calor em meio a
(sim)
o vendaval anunciado
que tudo arrancou e de tudo restou já nada
fugiu a família porão adentro
e lá desapareceu

Como abrir, novamente,
o ovo
banhar-me no amarelo da gema mole
espremida entre os pulmões, pingando
grudado de clara seca desde peito até
as juntas dos dedos, o entre-nádegas, a papada
a ramela nas pálpebras

um ovo rachado, quebrado, babando gema quente
dentro de minha barriga, por cima das tripas
e rins, amarela, amarela babada, pegajosa

eu sou uma lata de cerveja se entornando na sua própria goela de anel
eu sou um arroto engolido e fixado no ninho dos ossos
eu sou pneus queimando num microondas vivo
meus dedos pingam óleo diesel
tenho batom no cabelo. batom escuro. rouge,
camadas de maquiagem rímel base botox, laquê!
uma grande ópera ao umbigo magnífico

quem foi que disse que um raio não parte o mesmo coitado de novo e de novo
como machadadas caindo do céu
sou dividido por uma guilhotina ao meio
e minha alma... fica no meio
atingida em cheio

de resto, quem inda tem alma hoje em dia?
sua porta, um poço no meio de um
onde ele pode cair, afundar
onde transborda infiltra inunda encharca
olhem este homem! banhado de alma até os dedos!
pingando! pingando azul-cinza-roxo-lilás
amarelo-sol
as manchas de alma
pela cara, pelas calças
fez xixi? é pizza nos suvacos?
(suvaco do mundo)

a poesia começa nos olhos secos
narinas duras
a língua passeia
gotículas de lindo no meu braço
os pêlos arrepiados dançam
irrompo um carro setenta cavalos a quatro nós,
o vento de barlavento a bujarrona, a
parafuseta os pistões o timbre, catapulta,
aríete, ictiossauro pássaro fênix molho de pomarola borbulhando ácida,
tem spaghetti hoje no meu cerebelo,
jantar de todas as dores e caprichos risos
entupo. ignito. implodo.
jorra champagne do chão, levito alguns centímetros

a terra dentro da terra
enterrar o planeta
apagar o sol, fechar o céu
o céu é na boca

a alma do instrumento
todo vaso tem um dentro
desperto,
o fio de palavras rompe a superfícies escorrendo dos gasosos lençóis de sonho como nascente, cortando a paisagem com seu filete:
lembranças encadeadas, se ramificando, empoçando, turbilhonando contidas em grandes barragens e obstáculos ao pensamento...

Se pensar é singrar paisagens, se narrar é percorrer um caminho apontando os acidentes do terreno (suas frestas, seus perigos) para conduzir o viajante -
mas acima de tudo é uma incursão, ainda que conhecedora, cartografando para os outros:
é sempre uma primeira vez:
a jogada de corpo no pensamento.

Ponho-me agora a pegar com os dedos os rastros de outrora: meus próprios rastros.
A bússola que oswalde desenhou me guiou a uma terra incógnita e lá mergulhei, eu me perdi. Mas o segundo momento será já a deglutição de si...

alar-se sem cair no anjo

quando me nascerem asas como
mãos de pássaro
me envolvendo meu
e subindo
duas profundas mãos se me saindo
costas afora
como expelir o demônio-anjo por trás
da nuca dos ombros do
ponto cego completo, de mim: é dali
que sobe esta leveza poderosa
imperial de
cabelos soltos bonitos ao vento
e cá dentro o alívio sustentado
suspendido
encontrar meu elemento ar não por olhos luz e desejo
mas pelo não ver só soltar-me deixar-me acreditar-me ser-me sem segurar-me confiar-me em mim
quase aquela brincadeira de se deixar cair e o outro tem de segurar que é pra sentir que confia.

"já tínhamos o anjo! era meu corpo alado"
e então
a liberdade do
centro nevrálgico interseção encruzilhada
meu umbigo de costas meu nó
nos pilares do diafragma, na base das costelas lá atrás
- desatá-lo -
deixar-me subir o alívio
a leveza com ombros plantados
são na verdade asas que se abrem me expandindo
descomprimindo desoprimindo
que o centro das tensões é psico-físico
é ele-mesmo um nó mental
que desato
eu desato.
o homem nunca foi à lua, ele veio dela.
a utopia?
não é que ela não esteja em nenhuma parte
ela não é parte, ela não é de estar.
inlocalizável
abolido espaço
horizonte, paradigma do passo

voltar à utopia, mas incluir nela
o dinheiro, e daí desníveis
coordenadores e coordenados? rupturas?
e daí incluir nela
a maldade, e ser mau e não sê-lo
(a utopia não é só teu seio, teu colo farto
ela também é lágrima dor, navalha)

terá na utopia
(se é que se pode dizer "na" abolição do lugar)
também o tempo? ela é parada ou se move?
ou é uma transformação de distopias;
terá contradições na utopia?
terá o fim? a morte, o medo?

e de que serve a utopia?
se não tem nada disso, se é a só-metade
ela é mulher? é mãe?
não é... ela não tem o verbo ser

abismo na beirada do pensamento
sem chão nem céu

(também não é um vácuo, atração maior
do irreal)
reduzir-me
ao simples amor ao sol
e à pele e plantas
uma muda
em meio à ruína do mundo
rachando, desmoronando
é talvez a saída, o último
bastião que resta
(ou nem resta)
baixar a bola
expandir-me nesse pequeno amor...
é prescindir da ambição
que nos preenche o fundo
o céu da alma
(como tem um céu da boca)
de virar a onda
de reverter, de
instaurar
o grande corpo de amor do mundo.
e oscilamos, nessa ambição
e nessa contenção
esperando poder fluir, escorrer
canalizar-nos sem fugir
mas sem carregar o nada nas costas
sonhando a tomada das ruas
sonhando o sol
por toda a pele do chão
primavera
(meu casaco encostado)

O amazonas

Quando o amazonas corria para dentro, dessalinizando o mar
- hipótese de haver havido o matriarcado das amazonas -

afinal os maias foram basicamente perdidos

Verão

Nada parecia mais calmo do que aquele grupo de banhistas tomando sol na praia, meio-dia leve brisa e o mar azul azul azul quando os rangidos da areia esmigalhada sob o pêso dos corpos tornaram-se de repente mais audíveis do que o farfalhar das folhas. Não havia uma nuvem no céu e a baía coalhava de barquinhos, quando mãos imensas romperam a superfície do chão, tragando cangas e braço-perninhas etc. No local só restou um cachorro - cruza de poodle com tapete branco - latindo alarmado: isso não se faz. Dentro, os amigos entreeolhavam-se mudos num imenso salão subterrâneo, enquanto o gigante sorria dentes do tamanho de espaçonaves, afiando talheres para seu churrasco. Infelizmente, não havia saída, nem entrada para os que não sabiam mergulhar no sólido arenoso. Marias-farinha, tatuís, raízes de coqueiro: quando o gigante cortou o dedo e fugiu gritando, coube aos nossos náufragos montar um elevador de bambu e palha, e retomar o lagarteamento litorâneo. Verão.
Olá de novo
sou mim
ssssou
mimmmm
com papel de parede de bonequinhos
astronauta, planetinhas
eu te abro no firefox e
encho letrinhas, teclas
ficar achando as palavras em série
e daí postar. Imagino ler, e ler, e
postar. Click!
Lição para
guardar à vida
toda. Delicioso
é
surpreender-se
a si mesmo, de repente,
já num rumo, já num ritmo,
numa vida que vai indo, e geringonça
e prafernália
e coisa-doida

derrepente des-sou e sou eu outro.
surpresa
o ano novo

Invado corpo ombros braços sou
como dedos adentrando-me essa
luva
sou uma luva
meu corpo é a luva onde entro
meu corpo é a meia onde entro como um pé
e eu preencho.
Bolinha que
quica
em minhas mãos, ela
sobe
eu salto em seu encalço
golpeio
vai longe! alcance!
e de repente está de volta num
pulo que dei, os dedos voam
espalmo bato me espalhaço
para
nada

ponto do time deles
e eles rodam..


receptividade


eu digo sim
uma planta verde, o caule
vicejando verde verde que
não quebra, elástico
cresço uma alegria amarela,
meu sol da barriga redonda
eu sou um mundo donde
crescem quatro pernas e
quatro braços. Minha seiva
corre de olhos úmidos, as folhas se abrindo
sim! virão machadadas, mas
com meu sol devoro a merda
como adubo para erguer-me
pináculo de seiva verde
lião de vento
trepadeira
como são feitos os dias?
desperto, enrolado nos lençóis de tempo
camadas geológicas se amassam nesse sono inconstante
refluxo do rodamoinho da cama
eu pisco e sou de novo já quem fui dez anos atrás. A página virada
deu a volta, quem diria?
Será esse livro
um caderno de espiral - talvez os relógios são bem certos
com seu eixo no meio. O tempo volta. Tou à beira do comêço dessa vida.
Tava vivendo mas - a página foi, virou.
O tempo muda.
Afastei o cobertor, o quarto
voltei ao travesseiro. Eu sou de novo.
Eu posso?

Mas se a casa é um navio
Então – e a vida
Esse turbilhão de mares ao nosso redor
Ah o tempo!
Que mau tempo
A tempestade

Eu que nunca saí de barco
A singrar mares, eu
Que nunca li os ventos
Eu que temo
A ventania, quando sopra

Ainda assim,
Como a escrita que singra o vazio
Esta casa arrojada, empina-se
Eu marinheiro, lhe ato cordas
Enfuno velas,
Encho a geladeira de comidas

Ah!
O almoço é grande
o atributo
é a letra
mais o tributo
neste país de Cocanha
comer figos, rasgar a casca seca
enterrar-se na duna de farinha torrada
comê-la, sugar água das rachaduras
do encanamento
Gostosamente, põem as máscaras coloridas, com cornos e focinhos pronunciados, vibra de vermelho, e cada tanto em quê, não se sabe, mas as trocam, a ponto de só terem de referência tais roupas endemoniadas, perdidos os nomes nesta ciranda de faces trocadas.

Eu? sou um sangue
tinta vermelha
tinta vermelho escuro
tinta de carne

uma pilha de cartuchos vazios com restos de tinta
empilhados
vidrinhos de tinta
potinhos plásticos
garrafinhas várias
da tinta que nunca usei

sedimentados num canto do quarto
enterrados na carne
pendendo, juntando

como uma poça d'água escorrega
para dentro da cama
A fina
ponta dos meus dedos
risca o contorno
das suas orelhas.
Desfaço mechas
e nós
como um pente de carinho.
Afago em ondas, preguiçosas.
Meu nariz, eu aproximo
roçando agora também os lábios
e o cafuné se perde
em um colo de beijocas bobas e
amor ao seu perfume.

Tão quieta, a noite
você dormindo.
vai! maria antonietaaaa-taratata-tará-tá-tá!!!!!
decapicá decapitá
vai, vai!
marieta-marionetaaaaaa! trá! trá! trá!
Nela, nesta mulher
os homens entravam já grandes
nela enraizavam, e cresciam.

Cultuavam a deusa
mulher vagina, onde
pelo umbigo enraizavam.
C é U



          e
    o SS
P         o
otinbsow
mosquito

chupar do dedo furado
renascimento

suicídio do autovampiro narcisista
A       nariz
B    + nariz
___________

C    2  nariz
asse essa
ss   ss  ss
assa esse

asno
ouse
o
ss
o
Procuro, a brecha, a falha na parede,
na rocha rija que nos impede o gozo,
o vão em que me enfio,
corpo e alma, cunha humana,
cinzel para abri-la e vê-la jorrar.

Completo estou, de fantasmas serenos,
que mais valia partilhar, estendê-los em varal
pelo mundo, em sua trama de arames
que impede a rocha de se fechar.

Mais urgente então, encontrar o ritmo,
e, aos solavancos, fazê-los sair,
um a um: vesti-los de letras, estátuas de tinta,
cristais duros que se encaixam,
tomam rumo, formam-se mosaico
e quebra-cabeça. Nenhum nexo
estas letras em solto, mas o que aprendi:
expandir, multiplicar, deixar o duro ritmo das estacas
tomar conta, e a trama, impossível,
se deixará formar.
Procuro, procuro, a palavra certeira, a frase, o ponto exato do corte-começo do texto. Por onde o que é plano se torna Linha, sucessão,
desenvolvimento, Combustão.

Feito o furo, é só seguir seu percurso, o pior já está feito. Um corte, a caneta fura o papel de repente e a tinta começa a jorrar.

Mas onde deve ser lançado? Onde o furo, onde a brecha, a falha que permite entrarmos, picareta em punho, dentro do quadro?

Estou sentado, pensamentos ao vento, nuvens passam e eu atento, com minha armadilha de pescador.

Lancei um anzol no céu, pra pescar o sol - e de quando em quando, me sobressalto, faço menção de bater a faca: é ali!

mas não, o momento se esvai, ou nada pior que resvalar o cinzel na pedra, riscar o duro. Tomado o ponto falso,

a caneta quebra, a ideia morre... procuro, procuro, o tema, o contorno, a figura falhada que rebenta num fio de pedaços,

tornar-se então isto, um percurso, um gesto, uma jogada de corpo no abismo, um desfiar da nuvem em novelo, algodão,

e esticá-lo, e cozê-lo, tessitura do texto.
escrita rio, a linha da cabeça jorrando
não escreva poemas de amor
- vai que ela já é poema

Tenho medo do vento. Pare, vento, de soprar tão forte! As árvores vergam, levadas pelos seus chumaços de folhas, como velas de navio. Não, são os navios que as imitam. Pare, vento, de soprar tão forte! De estalar a casa, e apertar as portas, as janelas. Deixe o que está quieto, estar! Deixe estar! Pare, deus do vento, ó, deus do vento. Parece sempre que tem gente aí. E não terá? Vento! Que susto você me dá! Não consigo o sossego com você soprando! E a casa toda em ruídos. Movimentos. Que fantasmas voam por aqui? E se, e se é certo, e se é justo o inverso, e se são as árvores a soprar e dizer, a espirrar em nós, afoitas e com seus galhos carregam o ar e nos cobrem? O som parece a chuva, tocando gotas nas mil folhas. Mas vem em ondas, emergências, urgências. Como se houvesse Algo que se pudesse fazer. Me deixa à espreita, alarmado, esperando. Esperando nada. Com medo. Medo do vento que sopra tão forte que uiva. Que bate portas e derruba árvores. Que vem do céu! a raiva dos ares. É só o ar, escorrendo de um lado a outro? É mais. É um medo na terra. Um medo do vento que vem invisível com seus dedos de frio nos assustar da cama para esperar, em prontidão, que ele se vá. Que o ar se acalme, que o invisível largue suas raivas e se acomode. Oxalá seja logo. Oxalá dure pouco. E se escrevo, peço, que seja logo. Que o vento volte a dormir, e eu possa, novamente, dormir.
Em Harmonia, quando não precisarmos ir a parte alguma, os carros serão brinquedos de freiada, do gosto do seu ronronar. Atolemos alguns para ver a roda cuspir terra, afoguemos outros para borbulhar fumaça n'água. Sem combustível, serve de armário e pra esconder gato debaixo. As crianças vão adorar.
No início só havia gado e galinhas
tudo era prédio, a perder de vista
enorme massa de concreto, e criadouros
dos animais comestíveis. Eis que
principiou a decadência, novas
galinhas transgênicas, voavam, piavam
faziam ninho no topo do edifício
que por sua vez ruía, virava areia. O mar
apareceu dum enorme vazamento
na fábrica de água. Um cano estourado
para horror dos ambientalistas. E o desastre
somente aumentava, e derrubava
parte dos quarteirões bem-alinhados. A praia
começou na portaria, e foi crescendo.
Peixes de aquário fugidos, viraram tubarões,
antes produtos kitsch, de brilhar no escuro.
Muitos robôs perdidos
e corroídos, perigosos, contribuíram
para a selva. Ferrugem, energia solar,
mais uns quantos em coma, vegetativos,
cresceram musgo e fotossíntese, corpos dormentes,
daí veio as árvores. E as galinhas,
de bico cortado, fugiram
nos mais variados estilos, umas
de asa grande, outras correndo, nadando
sobre dois pés, as mais altas,
já nem cacarejavam, riam
os ovos chocando do lado de dentro
criando nos ninhos, de palha, paredes,
até criarem domésticos, uns animais
humanos, de engordar
e comer.
Ele queria foder muito seu carro
enfiar o pau pelo cano de descarga
roçar o aço, o pau no buraco da gasolina
no motor, encher o estofamento de porra
Eu? sou um sangue
tinta de carne
um resto de tinta
sedimentado, num canto do quarto
juntando
como uma poça dágua escorrega
pra dentro da cama
A cantora de ópera tem
na unha do pé uma cor:
ESMALTE! ela grita, soprano
o braço branco do dinheiro
milionários risonhos e maravilhosos
Completar o engradado

- geometria alcoólica
desafio estético -

são vinte e quatro garrafas
de felicidade
de seu carro vermelho
parada na estrada
gordinha senhora
abana, frustrada.
Página vazia,
bem-vinda ao não ser!
Compreendo teu esquecimento,
teu relegar ao tempo,
teu subjugar à memória
e ao vento.
Sou também perpétuo desfazer!
Deleita-te no teu leito de telhas leitosas, ó luta tardia, duelo do tudo e do dado. Dadaísmo de tolos, no lodo do labutar, baloiçantes de lombos, balidos, mar. Nego-te, senão, nem pensar!
Barulho: em alemão
barulho é Barulho
com B maiúsculo - mas eu
tenho um verbo e
eu barulho e o barulho
do meu verbo é
minúsculo
Duvida que eu faça um poema?
É assim: teu sorriso gira.
Alguns dizem que é a meia-lua rindo
a simples beirada da lua cheia - eu não.
Sei bem que está ali escondido
um círculo inteiro
rodopiante redemoinho
engolindo navios desavisados;
e que seus olhos são dois torvelinhos
infindos que o cercam;
e fico eu navegando
nos oceanos irrequietos
girando, porque seu sorriso
é a lua cheia escondida
me tragando e me engolindo.

eu amo, ela drama
depois inflama
não sei porque reclama
empredadores
e represas
estas corações da cor
coragem sobre mim
o oco da boca
(não cabe)

labio de la biografía
vida e volta
sapato e espírito
meus nervos de espaço
aceito conceito
           congelo
           comprimo meu primo
nada nem que a gente morra desmente o que agora chega à minha vó
aturo
costuro
futuro

ouvido duvida, ouviste a revista? ouriço ou eriça - o urina ouro...

- Olha, você ou viu, ou ouviu.
- Ou vi.
- Espera, você ouviu ou viu? Ou ouviu ou viu! Ou viu ou ouviu - ou viu - ou ouviu; ou viu ou ouviu ou viu ou ouviu ou viu ou ouviu ou viu ou ouviu ou viu -
- Chega que eu intuo tudo telepaticamente
a UPP papou papai: pá-pum!

o papa Pio poupa o piu-piu
engole a gula a
guloseima
em goles

golias en
golia a
engula
enguloseima

lenguloseima lêngula
a lêngula lengolias alengula
lengoles aos goles um golinho
agolias língula golula, logulaseima
entro por um ouvido mas não
consigo sair
por favor
Picotar picolé de html alcaçuz. Zarabatanas de néctar em cima dos meus punhos
poesiapoeira
poeirume
poesinha

ambrosinha a broesia
novembrosia
mandumes de baleias
manadas de cardumes
manadumes de nada
cardunadas
Uma maçã inteira
Já está pela metade
E na terceira linha
Terminou.
só acredito
VENDO
a ave viu a vulva e voou

o uivo vivo
a alva eva
o véu é vil

o olhouvido ouvê
converso a conversão, converto
subverto
desvirtuo virtualmente tudo
a virtude
é conversível no reverso, irreversível
me divirto
verto advertências na vertigem
vertical aversão,
avesso do perverso
observo o servo reservado
rejeito o sujeito, desse jeito
ejeto o projeto objeto, injeto o dejeto

dissidente do dissídio, presidente do presídio, subsídio insidioso do assédio acidental, era acidez, incisão, rescisão do resíduo sideral
jangada de junco gingava de gim
jejum de jongo, jegue
mugia vagidos
vagia aljavas
gelava javalis
eu ouvido
tu revidas
elæ devidamente,
devidido,
dividedo -
nós duvideodamos
vós...

o profeta do prefeito

feitura pura do enfeite
infectado de defeitos "afetuosos"
- confete na confeitaria

oprimo meu primo
comprimo, reprimo
(exprimo, imprimo o comprimido)
deprimo; suprimo
consumo, eu quasi sumo
é o quasi çumo
nós quasi sumo... o quê?
- eu conçumo, tu preçumes, ele çume
- tu preZumes, com 's'
- eu açumo, tu reçume
- reZume!
- eu cumo tu comes ele recome
- eu como e recomo, me diz, como?
(interrompendo)
- olha aqui vocês vão parar com essa PALHAÇADA senão eu janto e sobremeso os dois
a poesia é a língua dos olhos nágua
o sentido na linha dágua
o sentido fora dágua

é a sede do peixe
if i tit
if i fit tiff
if it tit

if tit, fit it tiff
i f t i t f i t i t t i f f
morada da letra
só a poesia é cega
porque ceia
eu sim tu sou ela céu
eu sol tu sal ele seu
cego do sussego ego
in sul tu sol
eu sem tu'a mão
um leão branco leitoso correndo em meio um tufão de animais leitosos mármore de vida branca quasi plantas, eu no jardim desta mansão imensíssima de que desenho os quartos; elis passão por mim eu deixo um dálmata e mais outras cair dos meus braços pa que a turba a leve rodopiando.
bate o sino, é hora, é hora d'algo
tô feito estética perto da perspectiva do estetoscópio perfeito
tu perturba a turba
percebe o sebo?
perigo do amigo não, peramigo, peraí amigo
nova barriga 30 horas
barriga que não fecha
esse é o edifício brabo
foi construído entre a fábrica de frio e o corpo do bombeiro
tinha um jardim na barriga
mas
veio o jardinheiro -
eu vomitei antes que pudesse continuar
simplex
complex

(perplex)
complexo complico
completo conflito
repleto reflito, replico
aflito eu aplico

eu aceito tu receitas
eu concebo
tu percebes
ela recebe
nós decepcionamos (eu decepo)
vós excepcionais (desta vez)
e eles,
susceptíveis que são,

não passam dessa frase

eu aplico
tu implicas
ele explica

nós complicamos
vós replicais
eles suplicam
Um homem entra, sua bota entra, a porta entra no quarto seguida de cadarços militares em estrondo, o fuzil nos meus olhos e daí à mudez absoluta enquanto ele vira e revira minha alma procurando algo e eu espreito, em fascínio, o olho negro da morte a me mirar. Ele se vai.
Corpo, usina de sangue, girando sobre suas máquinas; alimentando-as de ar e combustível, retirando-lhes a fumaça

le sang

azul é o sangue do céu
que cai em córregos e forma o mar
que sobe ao ar e engrossa e dobra
manchas amassadas de mar branco
- Este é meu cãozinho Tempo, o melhor amigo do homem.
a dúvida divide em dívidas
(doidivana dádiva vívida da vida)

vêm as dúvidas, como zumbidos
vocejando em meu entorno e a tudo levantando
lívidas, erínias, mínimas deusas diablitas
a gorgorejar o paz de esprírito

vade-rectum! lhes desinvoco
descobrir-lhes mudas ao simples
descer das pálpebras e
lavar o céu dos olhos
Surge aqui uma figura de cujo batismo eu denuncio
será assim a Etimolaria, e bem-aventurada será.

vocal

     vocação, essa
convocação, essa
  invocação provocante

coreografia

acorda
a cor
do corpo,
o acordo

recorda
a coragem
    corada
da cor

decora
o couro
do coro,
a cura e a
secura
do coração

quero a cara do carinho, o coração e o coracinho
a querida coroa, a cárie coroada, o coringa! curare
- Não, nada de nananinanão de nada, dona danadanadona!
nem garfadas nem garbruxas, um leito de almafadas e alfáceis úlmidas
almafácida, como algema de ovo
algemidos de gelar o osso
um tecido almofadado, calmo, clamufado - clamores abafadados

fada da alma, féerica alma da almofada, alfado da almoface
algumofada bruxa da broxada, minha ochecha echonchuda

plantei alface mas deu difíce
fácil fécil fícil ou difícil? misturado, difácil e físsil
primeira-feira... 
cuidado pra não cair no buraco negro da doideira
aproveitando tudo isto, que é palavra, é voz, som para analfabetos mas também desenho, partitura para recitarmos, ou, finalmente, hieróglifo: escrever seria esse ir e vir de cores recitadas e seus ecos; "são músicas, são das musas".
um apartamento lá no fundo da terra
era estação de sismos então máquina do tempo e tudo
cheia de monstrinhos de outra imaginação
você descia por uma hora, um tempo grande
com a chuva já era frio e cheio de rios e mergulhos
(engraçado não ter lembrado jules verne)
lá embaixo tomar banho quente, uma casa num lago raso, piscina e bom

anuncio o cio, negocio

anuncie o cio
a saia anseia a sua ânsia, o cio cia
esse sinal sem seio
o seu asseio
errei a rua, raios!

- rá rá rá, ria o réu, arria a ré, a rua, oh! rá rá rá, o horror! irra! irra!‏
a) menina
b) ijou o menino
c) gostou, se não gostou
d) morou!
- Tetas tão dotadas, as tuas, todas as duas: estatuetas do tato tido, aí detido.
- Tá doido, tá redoido?
- Redondo?
- Dedo, tá dado.

O Casamento da camisa com o vira-casa da encasacada.



Nós duas
de danadas, nuas
nadando doidas de dar nó
dia dois, às duas.
gravidade da lua, pulos lentos
deitar na parede, e cair
deitar no teto, sentar
quéru mais bagunça só par num gatilista, tendeu nom? boligude no asfalto alto
só pra mor di vê que qui sai da lêtra
ê letrão! aí sim, nóis pega fogo
êh! êh! ehê!
quero-quero
pássarim, eu, sim
quero-quero
teadoro teodora
teadorar dorada
quero sim

elis passarão
eu passarim

na-na-ni-na-nim
só uma pergunta piolha
hoje o dia tá crescendo engraçado...
- Cadê o chiclete? Tem mais um?
- Você chupou!
Andam um pouco, pirracentos
- Esse chiclete tem pimenta!
Três garotinhos vêm subir a mangueira carregada que dá sombra às mesas da lanchonete. A mãe lhes deu, a cada um, um pacotinho colorido de salgados, e eles escolhem orgulhosos o galho onde vão comer.
- Melhor subir sem chinelo! Você vai subir sem chinelo?
gosto quando dizem "fazer sentido"
quase como fazer bolo

- você não está fazendo sentido!

ela tinha os cabelos d'alguma cor que não o negro
seus olhos não eram azuis, ela


curvo-me ante a beleza da anarquia de outrora
era real nestes campos da palavra
quem sabia, eu acreditava
agora vejo invejoso
me rôo de gula ante a fábrica imersiva de outrora
os dias dedicados à simples brinca
sem privilégio aos outros, sem submissão
a palavra livre a correr como espada de uma liberdade perseguida
hoje vejo espuma sair-me
tão viciado nas colagens, no redito
só posso sonhar um dia voltar ao já escrito
só posso sonhar - que hoje eu tanto construo
tento criar um mundo, sair lá fora
e mudar
antes tão verdadeiro
hoje eu odeio de haver o dinheiro, mas não lhe cedo
não me curvo e permito que outros mo dêem
não, eu plantarei meu próprio dinheiro
engolir a revolução para que ela frutifique nos outros
a revolução deve ser interna e externa
a revolução nasce nas varandas
na sacada do primeiro andar
não se basta num quarto dentro de um quarto dentro de um quarto
num computador

a revolução acontecerá e na palavra só restarão suas pegadas
eu tô com defeito
um barulho
no peito

não chora, agora
que só piora

o que ouve no ouvido


a tua testa me testando
os pés pesados me pisando
peitos pintados me peitando

a tua pele, pelada, pelando

não me queixo
olho o olho
(toda língua passa pelo corpo)

a língua do linguado
e ela na goela
coloração
linda coração da cor


teus olhos ácidos
tuas costelas de ódio

caleidoscópicamente
um pé aqui e outro lá


lá fora, no náo-estar-aqui


colosso de rodes
tirar os mamilos (carnaval)
reimplantá-los noutro lugar

barbiezar fotos pornô
bacias hidrográficas
raios, raízes, ramos
veias (pulmão), os dedos
o tempo bifurcando
eu lavei minha própria língua
com lágrimas doces
minhas horas menores
meu relógio, tamanho P

(vejo os outros como crianças pobres
vestindo roupas enormes
com tanto espaço que cabiam
mais umas dez)
amar é como
chuva, vai..
                  saindo
          pra todo lado

quando a gente vê
tá encharcado


(onde foi
meu guarda-chuvas?)
"tantas palavras que sufocam
nem dá vontade de sentir porque nem parece meu
sou invadido de emoções clichês, entro nesse território de que já se disse tanto, que antes mesmo de entrar já sei, já sei de tudo, já sei do não saber;
festa da linguagem repisando tudo!
e me vendendo doces que não quis comprar
eu, que sempre amei aquelas as que menos palavras tinham
sempre me divertia justo quanto menos entendia
e agora todos sabem
e agora todos podem dizer, e é isto, e é aquilo
e esta agonia de não conseguir sentir em paz
porque é muito difícil ser original
quando tudo que faço entrou em seus termos mais literariamente óbvios
e tudo tão previsível
que meus rumos nem já são meus
são dessa vontade alheia, óbvia, externa
e quanto mais me sinto joguete, títere
me irrita, e nem consigo mais falar
afogado nessa rede de fofocas interminável
quando tudo que sonho se passa sempre fora do discurso
e minha felicidade se dá nesse passar à linguagem
esse parto que é o batismo das novas dores que ninguém jamais sentiu
mas hoje só sinto o usual, só piso pegadas já pisadas"
sou pedaço de mim, eu e minha avidez
somos dois
silêncio no cais da vida!
e os navios custam a zarpar
os cabelos soltos, negros
passeando sobre as costas nuas
a palavra-labirinto
uma alma composta de seis paisagens
e uma sétima unindo tudo (japão)
junho e,
eu juro!
sou desses viciados em confessionário
no meu
gosto de selva, de minhocas nas mãos, de terra marrom-tempero no brim das calças brancas,
gosto de mapas de papel amassados dobrados recortados e cheios de círculos nos nomes pequeninos
dívidas de lindt da
comedora de tomate
feito maçã,
nos banhos escuros ela
adora zebras
escavações descobriram a máquina de criar o mundo do poema
que dia - que hora, aqui onde está o sol vocês fecharam todas as cortinas
o homem rato comia quando tinha fome e dormia quando sono
linhas de tempo espiralavam por todo o quarto como teias de aranha enovelando-se
às vezes a porta abria
o homem-rato se encolhia num canto assustado
O indivíduo nessa condição não é como um motor que funciona perfeitamente até que se acabe o combustível e pára de funcionar; é mais parecido com um carro velho que por vezes funciona de maneira adequada, apresenta deficiências, melhora e, depois, deteriora profundamente seu funcionamento e assim vai indo de maneira inconstante.
porque pra mim, muito pior do que o texto é o calor!
...meu corpo evaporava e gritava hmmm!
os poros exclamando com suas mil boquinhas
e meu coração numa panela
cozinhando 
ele conhecia a floresta como uma mulher conhece o marido
o estômago não nasceu na gente
um dia o homem pegou o estômago
e guardou ele dentro da própria barriga

(os nuer)
ele vive num mundo
que perdeu as paredes
   (ele ouve o contínuo)
antes tudo era prédio
o mar vinha e batia
a ressaca, na minha portaria

a praia nasceu ali
onde era o 406
antes tudo era rua
os carros desembestando

um acidente: pam!
a ambulância parou
a maca, o contorno do corpo no chão
a fita de isolamento

e aí nasceu a cidade
os prédios rebentando por entre faixas de pedestre
as minúsculas foram inventadas no século terceiro antes de cristo

(a pontuação e o espaçamento também)
Quero amar a seco
à flor d'água,
teus lábios pintados de azul.

Risca minha pele fria
com teus dedos salgados
mas não mergulha, não fura
esse espelho sem fundo
(não pisa no que eu chamo de céu);

Quero amar a seco
à flor d'água,
teus lábios pintados de azul.


- você não tem um aparelho chamado amorômetro que faz bip bip bip e pronto.

(ué mas e amanhã professora?)
eu não tenho relógio porque o tempo é relativo. as pessoas são relativas. 

(ele faz de novo, faz de novo, tá te fazendo de idiota)
hoje nós temos registrado no conselho mundial de igrejas setenta e dois nomes de deus
te vi esticando a roupa na janela
eu pendurei um lençol e vi
como um espelho você era eu de longe
me vendo esticar lençol e vi
como um espelho sua janela de vidro igual
irmã de nós e eu era o ar
voando como seu nome quando
eu te chamava feliz

cada pessoa é um espelho possível porque
se eu ponho um espelho ali meus olhos entram pelos olhos dela


o céu brigou e não ficou mais em cima
desceu caquinhos de ar em gota
tudo chamou-se azul e brincou

o ônibus pisava nas poças de espelho
as pessoas entravam em guarda-chuvas
e eu ouvi um ronco de fome, lá no alto (juro!)

o homem de havaianas na chuva
seguia sério em sua baita resolução
as havaianas ele levava em sua mão
seus pés felizes espraiados pelo chão
quando o prédio deitou eu andei até a varanda ao lado
com a tesoura de jardineiro abri caminho na rede-para-suicídio-involuntário
mas não tinha ninguém dentro

o prédio deitou para dormir, se cobrindo com lençol-de-obra
os vizinhos caminhavam sobre sua pele e se abra- çavam simpáticos
davam bom-dias baixinho pro elevador não acordar




olhando bem,
é só ar
o vento desmanchando
as nuvens de tempo
- acho que vi uma girafa
um chapéu, um rosto
azul-céu
os olhos
rosa, rosa
as bochechas róseas


lipa
encontrei meus lábios boiando
em formol azul
a (linda) casa
onde ela morava
tinha cabelos
em vez de teto

em vez de
tudo
(e se não sonhamos? 
"sonho" já é palavra.
e se dormimos e...

...e isso nos mancha de sonho (palavra)
transbordando da noite pro dia)
tava funcionando por que-
ninguém tava ouvindo por que você tá me ouvindo?

você é a moeda que eu achei
que eu dei pro moço do carro
daí voltou você, na noite. tá errado...

eu tava só conversando mesmo e de repente eu vi que gostava bem
dei beijo que senão cê fugia toda que que acontece.

eu colho seu beijo com as mãos em concha
-meu beijo eram pontinhos perguntando
ela que disse

uma montanha de coisa descia do teto e terminava no pé de cadeira
você empurra e faz o som, da cadeira

ela foi na suécia e viu a primavera
depois de tanto frio

e eu moro numa gaiola dentro de uma gaiola
ela que disse
chuva de cavalos-marinhos
primavera
ts-ts-ts-tsss

quero um lençol de vento
a céu aberto


eu tenho o coração engarrafado
Para voar
(espelho de fevereiro)

"I dreamed you were in Brazil. One day you arrived to stay at my place, you and ten other friends. It was very hard to provide beds for all.
Entonces salíamos.
El samba era un volcano en el medio de la ciudad. Nosotros tomábamos un taxi para una de sus lenguas de fuego, donde habría buena música y danza. Pero nos equivocábamos y salíamos lejos de la boca del volcano, donde estaba el carnaval en erupción. Caminábamos y la fiesta adentraba nuestros cuerpos, el calor...

Desperté en mi varanda, la luna lle-
"...e ele mergulhou nas pálpebras cerradas dela. Ela dormia, mas em seu sonho foi tomada por um pêso e fechou os olhos. Ela não despertara, mas seu corpo agora via.
O homem desenhou então a dança negra da escrita diante daqueles olhos cegos. No sono, ela lia sem ver, e tudo ao seu redor nascia e lhe envolvia. Então sua boca abriu, e o mar cantou uma canção das profundezas. Os lábios do homem tremiam e suas mãos suavam, apaixonadas. O peito rugia. O coração se embriagava cantando, o amor sorria. O mar fazia amor dentro deles..."
artista plástico?
essa escultura aqui é de plástico?
então não, é.. artista de ferro-
a árvore dentro da terra
o estuário no céu
uma estante de livros cai por cima dela
eu tenho um plano de saúde:
amanhã vou tossir muito
terça-feira vou espirrar

é um plano saudável
tu sabe que eu num tenho nada que me queixá deles não
num tenho memo
não entra no relógio
que eu entrei

você não sei no que estamos se metendo
eu debaixo do amor e o amor debaixo d'eu
quero fazer você sair
         da roupa
                 você sair
      sem roupa
410 d.C.
Roma é saqueada pelos visigodos.

529 d.C.
Fim da era greco-romana e início da Idade das Trevas.
“coisa de amigo, tá ligado.
 eu perdi a cabeça dei três socos na cara dele.”
- é ruim hein. eu não sou o tipo de pessoa que você está pensando não.
isso aí é uma coisa que você não viu, que você não tem certeza.
jamais eu - jamais eu faria uma coisa dessas
olha, você - você não me conhece
não me importa perder tempo
só quero saber dos presentes

é sempre natal
e verão

joga uma bola de neve em mim
quem não seguir esse calendário

Regra N° 18: substituir todo "que" por mar

uma grande parte do dia
de hoje
distraí

tentava pôr ordem na
lembrança

a que foi sonho
a que foi eu
a que foi ela
gosto do seu gostinho
do seu beijo seu narizinho
de ficar gostando do sabor
doce
quero te dar um susto
acabar com esse soluço
hic! hic!
a sua língua pula
de soluço
vou morder ela hein
hic hic nhac!
não te deixo respirar ouviu
minha boca
bebe
a sua
um beliscão no seu nariz
                                     de amor

prendi teu espirro
te fiz engolir o soluço
viro o mar por entre seus lábios dourados

engasga de mim
é a lei
do vagabundo...
meussorvetinhodecreme...
esp era só eu a b rir a nov acalda de cho colat eque e ucomprei!
a nov acalda de cho esp era só eu a brir a nov acalda de cho
colat eque e ucomprei! a nov acalda de cho esp era só eu a brir

ah, meu
ssorvetinhodecreme...

speraassóeuaabrirranovacaudaadechcolatequeeeucomprei!
an ovaca auda d echospera sóeul a briranô vacal dadecho
colatequeeu comprei! comprei! comprei!! anovacaldade chouespéras só euabri r
você é de lamber os dedos
chupei vinho dos teus lábios
teu gostinho de uva

vou te chupar todo o vinho
te lamber o dedinho
morder teu mindinho
saber o teu gostinho
deixa de amor
deixa disso
todo chão tem um início
no fundo do precipício


em cima do teto o teto de água
voando
descendo sobre mim
e o teto de luz
me cobrindo
O prisioneiro bebe, bebe, bebe
de uma caneca sem asa
Olha eu sou quatro quilos mais velho que você, e dois anos mais alto. Não vale encolher a barriga! E nem adianta ficar na pontinha do pé, ouviu bem? Idade não se discute.

Tenho vinte e três anos: dois em cima, dois embaixo, seis que é só gurdura, tô devendo meia-dúzia e o que sobrou eu deixei em casa, lavando.

- Nossa, peguei uma idade que eu vou te contar! Não sara nunca!
- Ih essaí tá todo mundo pegando, não esquenta...