paisagem verde
que vejo pelo quadrado
duma janela moderna

meus olhos a atravessam
indo buscar o verde calmo
e o sopro lento do vento nessas folhas
que se remexem e balançam
e depois aquietam

repouso cheio de ar
e frescor da brisa que vem
úmida e nos toca as faces

passarinho cantando
começou o dia
Um et pousou na terra
mas ele era muito pequeno.
Pousou no meio de um rio
de formiga: dá licença, da licen-
ça, ele não se dignava a gastar
arma laser com formiga, preci-
so chegar ao presidente do es-
tados unidos! mas onde estará e
aquele papo de levem-me ao
seu líder só funciona nos fil-
mes, meses passando ele já 
casado e com filhos formigas,
barba mal-feita reclamando da
conta de luz sendo que formiga
nem tem tecnologia que tempos
são esses.
e vou dormir ou
fico fazendo coisas
da mais alta importância?
eu giro mal o tempo,
viu? pregar o olho, para quê
se posso ficar aqui lamuriando
qu'estou com sono?
a poesia como
sair de férias
lavrar o inútil
retirar objetivo da ponta
do verbo 
como quem retira baioneta
mastigar o verbo
como um chiclete
não chegar em lugar algum
só obviedades
e zona de conforto
eu mereço. é o melhor que
faço agora. já cumpri meu dever,
não já? as coisas que a gente se inventa...
tudo bonito
e banhado em muita luz
sair de férias e do tempo
o silêncio
onda batendo
barco sal a vela branca
brilho por todo o azul dobrado
e o azul lençol cobrino
realizando muito
e meu filho é lindo
tudo belo e muito iluminado
cheio de muita luz
μεγάλα φοτισμένα
kaváfis
foi bom hoje ligar à graça
que atendeu à primeira chamada
falar de rabanetes
e da grécia
no entretempo de tanta vida corrida
abrir espaço para reencontrar a verdade
as belas formas
queria fazer aula dum instrumento
não pra aprender, só pra distrair
como falei à cabeleireira (uma análise,
um ouvido, um palco)
que delícia era pintar
(era desenhar modelo vivo no méxico)
era meter-me em placas de tinta
era praticar o inútil
tudo tão útil hoje. tantas ambições
me inflando como um balão
cheio de brinquedos, de apostas,
de desafios que de teimoso assumi
Conversar com leo me leva a revisitar aqueloutro andré (e daí marcar-me distinto, mais cínico, mais desiludido...) realmente o que faz o passar dos anos, hoje o mendigo me pediu comida e eu alinhado de passo rápido, ser anarquista não seria diluir-me inteiramente em dádivas? leo fala de dirigir-se às crianças ignorando as hierarquias nucleares, mas omessa essa aposta em infiltrar-se nas grandes torres, perder seu romantismo e se aceitar engrenagem, parte do problema, e tentar fazer o quê que nem sei, inventar sonhos nessa catedral do Estado. Como influir, realmente? canso-me do RJ, mas é uma boa questão o RJ, e lembro lopreato falando d'eu invocar o Brasil todo, como queria, mas sempre subordinado a entender o RJ, sem querer alçar-me a falar de tudo, que seria excessivo. Está bem, mas como influir, realmente? A política oficial, é uma pena afastar-me dela, mas também um alívio? É um caminho distinto, é um caminho que eu talvez inda volte. Mas não agora, agora é falar mal do agronegócio, falar do Brasil e da América Latina, falar grande, que sei eu, ganhar espaço em debates. Conhecer muitas gentes, coordenar e saber fazer isso de letra enquanto estudo coisas. É isso ser anarquista? Surfar posições, com visas a quê? Ah que sei eu, mas também, sem lembrar esses grandes idealismos, não sou inteligível. Sou inteligível, afinal, quem é - os outros parecem muito, com questões muito burocráticas e irrelevantes. Já leo, realmente, será - com sua gaveta infinita, hoje tentei uma aproximação desinteressada, sem tanto idealismo da publicação - eu que solto ideias todas ao vento, e livros não-publicados tenho por falta de edição, já que sei o pós-trabalho - e leo falando de já ter sua estrutura e só ir preenchendo, em uma disputa até sua morte, valha-me. Será possível contorná-lo, será saudável (para mim o esforço, para ele a exposição, para nossa amizade essa tensão agora que estamos num equilíbrio profícuo)?
hélio em pézinho apoiado dá seus passos pro lado e quando acho que vai cair, ele se senta espertinho, num domínio completo do engatinhar. é um barrilzinho mesmo, o garoto é um tronco, ele é todo durinho, todo denso, cheio. um saco rijo de vida nascendo e crescendo sem parar. e quando vai pra frente, sem domínio das dimensões direito, só vai pra frente e pode capotar fácil, mas se o chão é macio na cama no tapetinho ou por cima de mim e dela, ele só vai capotando tropeçando e indo sem parar, até seu objetivo. e quando o objetivo sou eu? ele vem com tudo querendo ficar em pé ficar me abraçando se acolhendo em mim.

voltar à altura

deixar o nariz se deixar vibrar quente e o céu ir descendo, o topo do mundo ir descendo sobre mim sobre tudo. como eram aquelas conclusões obre a necessidade de uma filosofia que limitasse o universo ao que sinto? a única filosofia honesta sobre o que posso perceber
só existe o agora e o imediato, só existo pelo meu corpo
toda apreensão da existência que se imagina ultrapassar isto, na verdade ainda está presa nisto. quando imagino o mundo estou me imaginando maior ainda, estou imaginando na verdade ser imenso e ter o mundo à minha frente, esse modelo. recusar a capacidade de me imaginar escalas maiores ou menores: é o modelo. preciso lembrar que o mundo é o imenso (imensurável) que se estende pelos horizontes, e tentar apreendê-lo passa muito mais por lembrar o que está atrás dessas paredes, o que está abaixo desse chão de apartamento, me situar novamente dentro do mapa escala 1 pra 1... aqueles exercícios...
porque subir numa montanha e ver grandes distâncias, é vê-las mesmo. dá a ilusão de sermos imensos como a montanha 
volto à questão da altura, como a dimensão sagrada que foi escondida. subir, descer.

 they tell me

a fina flor da madrugada
o deleite puro do estar consigo
que vida bela sonho em estar aqui
a sensação boa de realização
o som das teclas pulsando sob meus dedos
reencontrar uma paz de dar ao mundo o que ele pede de mim
e quitar esse desejo imenso que vem de fora
e então estar livre
para ficar teclando
e dançando
radiohead
ouvindo o mesmo cd
e balançando 
curtindo demais o baixo
e as vozes
e escrevendo tonto
quantos anos depois?
vício do número (eu gosto)
sem nunca entender a letra hahaha
(a própria livi falou ah então andré tu és esse cara que dinamita uma ação coletiva põe as pessoas pra trabalhar e eu fiz mwahahaha. que coisa boa ter atraído ela.
isso que o joão vaz bêbedo disse: tu és o nosso líder
eu puto da vida (apaixonado ele disse) atacando com erros e insatisfação
acreditando as questões serem urgentes)
que pessoa eu sou né? 
acredito muito em enfim manter esse bastião sagrado
esse lugar só meu e do meu entorno
minha intimidade muito sincera
odiar demais o palco
e a fama
e enfim ainda assim aceitar, usar, mas mantendo um diabo vivo
isso não é o caminho, gente
foi tão louco ler paulo freire ontem. e não citar nominalmente por achar piegas
mas ficar lendo e me inspirando e pensando. e usar os termos educação popular, comunicação popular. tentar usar os conceitos na prática: exibir preocupações com que as pessoas não estão acostumadas
trazer um debate universal e metafísico para uma realidade que as pessoas não esperam, acostumadas com o dia a dia mesquinho da vida pequena
e eu invocando deuses
como um mago
um mago endiabrado que se sabe mero canal de deuses
e consegue conjurar o fantasma do ego
e trazer o canal de energia suprema
o fluxo de vida forte que jorra ao ser atravessado
quando eu te amo e você me ama somem sujeitas e só sobra (soçobra) o verbo
(cuspindo rapé, escrever cuspindo e tomando cachaça)

insonia saudosa do soumim

bebendo como o velho combustível
falta ouvir radiohead de olhos fechados
e imaginar alguma epifania
e sem isso?
e quando eu deletar essas primeiras linhas?

e quando sobra o tempo, as brechas
uma gotinha de tempo
uma insônia, já que eu desisti de dormir
e daí o que faço
fico tentando pescar pegadas de quem eu sou
de quem eu era
de quem me acostumei a ser
e se eu mudar?
e se eu deixar aqueles sonhos?
estranha liberdade, não por alcançar a lua
mas por pensar noutra coisa...

quem sou então? sem o projeto
de aumentar e publicar os fragmentos
é que me tornara então um grande filósofo
um artista em construção, a promessa
em meus muitos caderninhos
e agora que me enchi
e só vejo tudo como: produção
produzir lentalíssimamente oh meu deus que demora
são dias e dias, tudo é cotidiano
tudo é um imenso cotidiano sem sobressaltos
boto o hélio para dormir e não durmo, fico me revirando
vou tomar cachaça pra ver se me entrego
vou escrever, no teclado; vou digitar palavras, palavras
quebrando linha sem critério

queria mexer uma matemática bem doída, só pra me relaxar
aprender a linguagem simbólica de carroll? acho que é mais burocracia, do que difícil
mas seria legal (bota aí na lista)
acho que estou escrevendo pouco. é bom digitar a esmo aqui nesse espaço
sem muito objetivo. ah estou poluindo
o grande legado do soumim, referência de tantas gerações
com esse desabafo maleditado... mal dito...
o tempo está passando, eu trabalho bastante todos os dias, todos os dias eu trabalho bastante até bastar... o que estou construindo, tomara que seja bom.
estou um tanto sozinho? em que aspecto? nessa insatisfação quem sabe
por que eu não dormi hoje? por que me deixei levar pelo insone?
acho que fumar mantinha uma ilha desse passado, quando tudo o mais dele já tinha ido
e agora fica isso, essa ausência...
talvez porque to trabalhando demais, ralando demais, é bem doido isso, tenho muitas metas. a gazeta ser linda e séria, publicar a sério, o faoro a fundo, e ficar forte e bem, erguer minha casa, a família...
algo sozinho? talvez porque sem vida social, sem ir beber no bar com o amigo, e poder me identificar com alguém... tenho colegas e amigos queridos. mas sou diferente, ao diabo: no que sou, em meus poderes; e na trajetória, as mordidas que carrego, as heranças
aqueles tantos fragmentos de ideias... o sonho de que um dia vou formar o maldito vaso...