vontade de ser a grande maré que virá.
ser força irresistível que se vem nos inclinando,
devagarinho, devagarzinho,
para um mesmo eixo;
Ser-se grande Linha reta,
uma vida inteira simples traço, linha da vida
ver a si um fio negro unidimensional;
o grande canteiro de obras de uma ponte, de uma auto-estrada;
Outro dia abri o jornal e tinha uma dessas construções enormes,
daquelas avenidas lançadas ainda ao lugar-nenhum,
que se pegasse um carro, uma bicicleta,
ou simples saísse-me correndo feito barata,
e mirasse-me à frente, acelerar, acelerar, acelerar!
lançar-me-ia no vazio,
em meio ao espaço indefinido,
e minhas lágrimas, meus cabelos e meu cadáver
ser-se-iam em fundações para a próxima pilastra,
a próxima distância percorrida pela via,
o grande caminho,
a grande avenida humana, em vários sentidos.
quão bom não deve ser um rio enorme,
ser o amazonas extremamente gordo,
de uma risada de baleia azul, a maior de todas
que ao rir engole mil-e-uma almas minúsculas (e nem perceber que vive disso).
ser um fluxo caudaloso que atraia todos os outros a si;
que quando faz tempo de chuva de crianças novas,
todas essas gotas de sangue escarra-escorrem até as vias fluviais, artérias,
arrastando tudo em seu caminho em belas esculturas da erosão,
circulando a vida do mundo e pondo-a a gerar barulho; mas faltam rios!
quanto não deve fazer cosquinha engolir um milhão de pessoinhas,
fazer delas minha grande máquina de engolir as outras;
tanto melhor que haja esses monstros marinhos,
Leviatãs
(todas imagens que sempre nos remetem à água, seu poder de fusão e de torrente);
Muito melhor navegar o mundo em grandes naus bárbaras de conquista,
deixar os lençóis freáticos da cama para trás, e tempestear o mundo;
inaugurar a grande avenida revolucionária de vida!
que água parada trepa com mosquitos, pare mil sanguessugas irritantes;
prefiro deixá-la enlouquecida sem esse sexo de podridão,
atirá-la das montanhas altas para que coma ar e passe a parir som!
ah, grande ser-se em rio! e dar risadas que comam os outros -
onde estás?
grande eu-rio, ser de fluxo e de canibalismo;
eu-rio! onde estás? onde acabas?
eu-riodejaneiro! mês inteiro de risadas de baleia,
rio dos meses, Rio dos tempos; ah, grande eu-Rio do tempo!
inescapável prisão!
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Um comentário:
alguns pedaços nao me parecem ter conexao com o todo, mas pode ter sido efeio das janelinhas de msn gritando enquanto eu lia. fiquei com um certo medinho de vc, confesso, com esse negocio de comer pessoinhas. mas o texto ta bom.
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