a anarquia está refluindo
bastava deixá-la a si mesma,
suas memórias-mesmas repetinindo estilo
que iam-se perdendo em resmungos e rascunhatos
as duríssimas liberalidades de folha-de-papel-em-branco.
oh! infindável limpar as folhas de suas manchas!
se logo crescendo fungos pelas bordas,
as folhas tão manchadas de bege;
abrir terreno! explodir as velhas linhas negras circulares
velhas linhas grossas, pretas, resistentes
que me soam cordas e correntes atando os desejos de escrita:
tanto cabelos negros que me entopem os ralos,
impedindo os escoamentos, os deslizes, os rios.
eu nasci em um grande campo negro
regido pela Lei do círculo:
palavra circular, palavra-espelho, palavrarvalap.
e se por tal mesmo nunca proliferei,
encolhido por esse vômito de pronúncia;
se então atirei o escuro por longe - resolvi começar-me um nada
escrever um nada e deixar aflorarem muitos os pequenos vícios encolhidos;
mas ainda o lugar onde se escreve é como jardim:
e logo as livres mudas palrando novas de raríssimas
nunca dantes vistas em suas formas e desleituras
inventam a dominar-se regovernadas! e já sufocam;
uma escrita grande desmatar, desconstruir, desfazer, deslocar, desgovernar,
tudo a grande limpeza de tudos aquilos lânguidos que façam tamanha força por marcarem-se em papel;
tudo libertar os pequenos, os menores, os infinitos:
que meio vão-se em surgindo acidentalmente
e pelos cantos, pelos desinteresses, pelos vazios;
espontâneos: tão infinitos
grande motor da anarquia a mira na destruição, iconoclastia.
pois se construir, se dá no não-visado, só se dá no não-olhando;
escrito, ex-grito,
encarnando esse subterfúgio de apontar tudo alvos que rasgar,
inimigos que romper, que deixar;
largar as letras sós borbulhando em não regidas por grandes Leis
garanti-las dispostas em certas arquiteturas,
lhes interrompendo as fugas fáceis àqueles tão enfadonhos,
tão chamados lugares-comuns, de maus-hálitos
deixá-las soltas assim: esquecidas,
que por aí revolvam suas novidades de se ser.
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