as canetas melodiosas rabiscavam
páginas e páginas e páginas
nossa, 'quele tempo das pilhas de papel empoeirado
eu espirrava contente: e o vento fazia até barulhos
quase bonito as folhas rodando no céu.
que seria 'screver a duas mãos
'queles tempos em que só uma guiava tudo
e quase estávamos é nos esticando inteiros
redebruçados corcundas, tortos na escrivaninha
o braço inútil, o outro esticado e apalpando:
entrar no papel por uma frestinha que abríssemos
com tal caneta cortante, cravada furando
até sair querida tinta-sangue da folha..
e hoje, tão fácil, tão veloz
quase saem-me letras é de todos os dedos
escrever a duas mãos? escrevo a dez!
dez dedos apontando letras como numa feira
"vou levar esta aqui, redondinha" "a madura ali, por favor"
sambando harmoniosos e muitas notas descompostas
rebatucando trac-trac-trac as teclas leves
infinitando a textura táctil das palavras doces
que se nos saem escorridas aos borbotões
dessa tal máquina-escriturante tão modernosa
plec-plec-plic os sons gorjeantes percussionistas
um plique-plaque muito mais musiciano
do que as arranhadas ásperas dos passados tintureiros.
muito mais: de ritmo e bom som.
deviam pôr debaixo dos botões redigidores
sininhos ou fadinhas miúdas enroladinhas
a gritar e gemer a cada pressão - ia ser bonito de escrever!
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