daquelas angústias; faltas de rumos
que caminhos novos estas letras me abrem?
não se sabe. por que isto? por que isto?

há algos que devem ser mais alardeados por aí:
as escritas precisam sair do papel branco;
que saídas encontrem, que saídas inventem
a escrita para sair da vida de papel branco
(a vida de branco)
(a vida em branco)
não basta escrever na vida,
pegar sua caneta e ficar desenhando no ar até que o vento leve:
esta escrita precisa sair do ar e entrar nas paredes,
precisa sair dos bloquinhos e seguir braços adentro
escrever nas linhas mas também nos sangues e sons
de forma que as próprias palavras ditas estejam pichadas, rabiscadas, fragmentadas:
o mais importante das canetas-tinteiro é as manchas na mesa,
os respingos nas roupas e nos dedos,
que denunciam: inventei.
auto-invenção, auto-construção,
auto-fabricação de corpos novos todos rasgados em imagens
imagine aquele dia em que você veja alguém sem nome lhe perguntando 'que horas são'
e note, gritante, nos trejeitos de suas sílabas,
no escoar da língua entre os dentes,
no próprio matraquear das idéias nas orelhas:
toda aquela multidão de falas tentando porque tentando sair;
uma horda de impossíveis revoltas às horas e ao são,
uma vibração de incomum: um 'que horas são' que se ponha de pernas pro ar: para sempre.

obrigar a fala do escritor a rebentar
obrigar suas letras a afogarem seus olhos
que ele não consiga mais ver o mundo igual:
que isto aqui tudo tenha algum sentido (por favor)
que não sejam floreios, ah! que não sejam floreios!
que não sejam poemetos de jornal,
embelezamentos fáceis de uma vida imóvel, conformada:
que seja sísmico; que seja tectônico;
que trema lá nos fundos dos refundos das almas
que se desagüem em novas formas de respirar
que as letras saiam da página, que escorram livres
que saiam de mim: que entrem em mim: que soem.

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