o que é livro, palavra
só minhas mãos, os dedos (cansados) falam
apertar massa espalhar massa quebrar
vi tijolos quebrados no chão e pensei
quero quebrar tijolos, o que acontece, quais as formas
vi pedras no chão, quero pegá-las tocá-las
que palavras o que é palavra
tro-peçando dizen-do cada sílaba com esforço
com a língua mais interessada no ar e no apalpar o ar
do que nas letras desenhadas no som que som só quero
matéria
(um poema feito de argila)
desenhei meu estômago
vomitei
apagando tudo com muita força:
tirando as coisas erradas talvez
limpando, possa fazer direito então
(alimentar o papel com as comidas certas)
pisca, página
recheada de pizza e
não-vai-me-vencer teimoso
(como uma que não dormia e só chorava, dando a volta ao mundo no barco, na sua barriga-tronco-peito-eu gêmea)
piscinas de óleo, escorrem, borbulham
sorrindo (piscam, estrelas de borracha)
bananas e lentilhas não tapam o
chão preto, a sombra
recorta bonita que linhas quebrando
vendo as formas dum paralelogramo e
os estilhaços do espelho quebrado
todo dia pisam num, são sete anos
mas o espelho espatifou e os cacos voaram
pequenos triângulos pelo quarto, eu os vejo por todo lado
da porta posso ver tudo de longe, as manchas se unem, e funciona.
era leve,
uma janela esquecida aberta, cheia do calor da manhã e, um sopro fino entrava carregado dos mumúrios dos carros correndo, como ondas batendo,, as cortinas vacilantes roçavam o assoalho carinhosamente, varrendo pó de lá para cá e, nossas pálpebras indecisas, dia novo e luzes elétricas deixadas acesas, pratos do jantar esfriavam na mesa, sempre
os dedos pousados mais pareciam passageiros do gesto contínuo como o vento lavando carícias das folhas das árvores, coçando calmo torsos e faces, sem pressa
um suspiro subia, e descia, como discos rodando, os vinis chiando sob agulha mas sem música, só: o silêncio cheio
em dois minutos ela, leve como , e certeira,
permitira às suas mãos beijar o branco, e amá-lo, o branco silente

fora ela ou sua voz, tão leve
quatro lágrimas, cada uma dói, nenhuma é preta
o pilar negro não se borra,
nem com as mais finas sutilezas..
a voz sopra, mas desenha no ar, quase desenha em mim
quero desenhar nos braços no olho na vida
o branco silente, é tão lindo

(senão! é como amar uma mulher só linda: uma mulher tem que ter qualquer coisa de triste, qualquer coisa que chora, uma beleza que vem da tristeza de se saber mulher, feita apenas para amar, para sofrer pelo seu amor e para ser só perdão)
eu queria aprender a dançar com quadros

(hoje dancei muito o esfrega-esfrega preto e branco
como nos filmes antigos de swing
as meninas jogadas para cima e os pretos americanos
ando meio preto)
as manchas pelos muros são
de dedos sujos
apertando paredes finas como esquecidos

lembro das crianças comendo bolo de chocolate e limpando na camisa, na barriga redonda

um espelho para acertar as
olheiras de maquiagem
e sair da mina de carvão
não havia ouro mas
os passarinhos vêm morrendo, todos
esgotamento gota
da boca vaza esgoto
lembro dos canos, dos tubos com sombra
um lado branco e no outro deito e escorrego
como um tobogã manual
sem água (a não ser suor)
esgotado
como linhas ocas e
buracos
um tronco vazio e
os copos
secos

o nada acordou

e via tudo enquadrado

manchava meu
olho manchava

a chuva
a listra vermelha

manchava janelas
o branco

dos olhos teus
cinzas, chovendo

na janela desenhos
chovia

as manchas borradas
o batom apagado

mas

às vezes meus olhos
duros de vidro
embaçam
o contorno dos teus beijos
nunca saiu

nem
lavando
passeava nos labirintos e
cuspia
soluço chato

eu era uma máquina de não-andar
eu só via mas
soluçava, oh! soluçava
quantos caminhos, eu queria gritar

labirinto e as mãos tateiam
dizendo às mim
jasmim
dizendo imagem
dizendo simples: veja e
labirinto (ande)
ouvi
os primeiros ouvidos
de um bebê
( que chora e ri
indistintamente
pelas escadas e )

não ao
som
com S

não à
memória

hoje você nunca existe mais e amanhã
é uma corda puxando o pé
à noite. quando janto de novo querendo despensar
meus quilômetros de grafite nas mãos e no rosto
e na boca e nos olhos sujos lindos
como se tivessem nascido agora
antes da palavra
havia
linha da
vida
mão -círculo e
tantos dedos saindo
em retas - e para onde

eu sei que
há metades que
em vazio
se completam

branco branco
gigantescomente
pesa
por três vezes
a lua sorriu
vestiu-se guilhotina
e apagou
como um céu escuro

as estrelas, pequenas
tremelicaram úmidamente
me querendo constelar,
mas eu nunca tive telescópio
sou um tanto míope
e gosto de céu centrado

três vezes
e só na terceira
olhei pra cima
e a vi

lua, lua longe
lua sempre
(o brilho grande, tão
mórbidamente
maior que tudo)

adeus à noite
talvez no sol haja luz
para tecer
uma nova via (láctea)
uma nova vida
queria chorar, mas
era domingo
então

andou de ônibus
a lata de café abriu
bocarras de aço
engolindo meu sim

dentro
os gemidos ecoavam
como num banheiro
as paredes desciam como
ampulhetas rachadas
soterrava minha cama meu
pé óculos cadeira o relógio
que meu avô perdeu..
era dia infi
nito
quando acordei
(embalsamado)
descendo por uma
corda de papel higiênico
num poço de
desejos

não tenho moeda mas tenho
medo
só peço um dia
sair daqui
aponta os pés
juntos, tesos,
de braços olímpicos para trás
o salto Milimétrico
heróico, perfeito
diretamente na
poça de marshmallow
não precisa respirar só
esqueça
tudo branco
mole
doce