quando em desdizer as maravilhas que os filósofos de plantão choravam ao vento, lépidos
que tudo mentiras e vago ar, o vento soprava entre suas palavras ocas e as tiras de papel fatiado pela lâmina cega, coração desmesurado
quando em afogar-se em um mar de tato e novos olhos, e batizar-se surdo-mutismo por desejo, movimento mutista, mutante
eu trafegava meus próprios pés, na areia inexplorada, desenhando como pontas de dedos sobre faces inalcançadas, sonhos trêbados, trôpegos
um corpo construído em nós e soluços, em espremer-se contra um espelho, amassando manchas de gordura e carne na tela fina, na imagem retorcida e deformada, em si
nus e crus, despidos, quando o vento soprava trafegando entre árvores e prédios e nos invadia, pelas janelas, pelas portas entreabertas
lambendo nossas peles e nos limpando de tudo que não nós, de todos desenlaces fáceis, de todas as fugas
uma folha seca atirada contra o muro, esperneando para acordar gritando: vida
minha pipa fantasma
medusa os tentáculos de barbante
flutuando etérea, éter
surfando atmosfestas
esquivava lufadas de
vento, deus da paisagem

querida,
dançavas belamente um desespero
fugindo às correntes que eu laço, sempre
em teus calcanhares.

ásperos dedos de
plástico
caminhavam pela sua pele
camaleoa
leoa
nas curvas levas como vales
curvas vivas
ondeando olhos no lavando imagens
lentas
ásperas
mãos de zinco e ferros
tossiam
imprimindo tristas pequenas marcas
que lha diziam
jamais
a escrita tem borracha demais,
queria máquinas de escrever
canetas tinteiro (sonho platônico, jamais lhes provei)
olhar um poema ver versos cortados, rimas apagadas refeitas
apagadas refeitas
uma grande estrofe de indecisão, toda suja,
as fibras do branco aparecendo, vincos, manchas empenadas

ver o processo nas palavras
um poema honesto
sem esse limpa-tipos infinitamente implacável
que é passar a limpo
(não quero às limpezas!)
desenhei meu estômago e vi
um poema feito das sílabas de sanduíche