quando em desdizer as maravilhas que os filósofos de plantão choravam ao vento, lépidos
que tudo mentiras e vago ar, o vento soprava entre suas palavras ocas e as tiras de papel fatiado pela lâmina cega, coração desmesurado
quando em afogar-se em um mar de tato e novos olhos, e batizar-se surdo-mutismo por desejo, movimento mutista, mutante
eu trafegava meus próprios pés, na areia inexplorada, desenhando como pontas de dedos sobre faces inalcançadas, sonhos trêbados, trôpegos
um corpo construído em nós e soluços, em espremer-se contra um espelho, amassando manchas de gordura e carne na tela fina, na imagem retorcida e deformada, em si
nus e crus, despidos, quando o vento soprava trafegando entre árvores e prédios e nos invadia, pelas janelas, pelas portas entreabertas
lambendo nossas peles e nos limpando de tudo que não nós, de todos desenlaces fáceis, de todas as fugas
uma folha seca atirada contra o muro, esperneando para acordar gritando: vida

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