outro dia li dos amortecedores e imaginei
queridos deuses tecendo nossas paixões
o homem de
olho azul, e
camisa azul
feliz como quem almoça

conto do homem que chorava

sentava ao nosso lado, as
lágrimas escorregando, sempre
os dias
as manhãs
não güentei -
peguei-lhe um ferro
preguei-lhe a cabeça
várias bordoadas,
e dele não saía mais água mas
de mim
eu queria um amor
como uma crise de soluços:
súbito,
intestino,
em explosões curtas que quase derrubam.
a gente fingia então
matá-lo a sustos discretos,
a copo d'água
braços para cima
fôlego preso
cosquinha repentina
não te amo mais e
fim.
meu peito vazio
em minhas veias só ar
embrulhado em pele de plástico
fino plástico de sacola de compras;
tenho aqui um oco que
quase caio dentro de mim
meu peito vazio é como
um estômago
eu mordo,
eu rasgo,
eu mastigo e engulo
para inflar meu balão de sangue
mas ele está furado
a vida escapa
em gotas salgadas
pelo rosto.
mergulho versos neste poço escuro
respingando tinta preta nas brancas mangas de camisa
o poema é o trapo sujo
da minha insignificância
espremida aqui.