eu era vento, mas era sonho

me carrega
e eu sou vento
nadando nas árvores
sou um peixe
nadando nas árvores
só meus pés
sentem chão
duro e frio
e frio
sou enorme
meus pés ressoam no salão
sou enorme e desajeitado
sou o mundo
mas corro,
rodando rodando
sou uma folha
rodopiando
sou um vento;
volto ao mesmo lugar
onde passei minha droga de vida inteira
mas volto
voando
tão atento ao teu pegar pontudo na minha mão
tão inteiro nessas vozinhas
que rabiscam o som dos vizinhos
que nem voltei pra casa
caí num buraco de pensamento
essa janela aqui
essa porta óbvia que eu apalpo
são tão bonitos!
- esses teus dedos quase largando de mim
e que descolam infinitamente
doloridos
como o fim d'um beijo
pelas mãos -
mas sou um sonho
desacordando
quando tudo era só mistérios
e o fim vai doer tanto
e o fim
e o fim
abrindo os olhos

Nenhum comentário: