"tantas palavras que sufocam
nem dá vontade de sentir porque nem parece meu
sou invadido de emoções clichês, entro nesse território de que já se disse tanto, que antes mesmo de entrar já sei, já sei de tudo, já sei do não saber;
festa da linguagem repisando tudo!
e me vendendo doces que não quis comprar
eu, que sempre amei aquelas as que menos palavras tinham
sempre me divertia justo quanto menos entendia
e agora todos sabem
e agora todos podem dizer, e é isto, e é aquilo
e esta agonia de não conseguir sentir em paz
porque é muito difícil ser original
quando tudo que faço entrou em seus termos mais literariamente óbvios
e tudo tão previsível
que meus rumos nem já são meus
são dessa vontade alheia, óbvia, externa
e quanto mais me sinto joguete, títere
me irrita, e nem consigo mais falar
afogado nessa rede de fofocas interminável
quando tudo que sonho se passa sempre fora do discurso
e minha felicidade se dá nesse passar à linguagem
esse parto que é o batismo das novas dores que ninguém jamais sentiu
mas hoje só sinto o usual, só piso pegadas já pisadas"