pelo potlatch revolucionário na escrita

bataille,
o homem com nome de guerra,
me avisou um dia, num bar, em que eu bebia:

"cale essa boca seu garoto maldito e estúpido!"

ao mesmo tempo em que enfiava uma faca em minha coxa,
e me puxava os cabelos até a lata de lixo mais próxima.




este aviso profundíssimo,
demorei anos a compreender.


bem,
que recentemente,
em meus passeios mancos pelo mundo,
descobri talvez uma hipótese interpretativa,
que enaltece o gênio do mais-sábio-de-todos
e justifica esse seu comportamento agradável,
como de um mestre que me provocou gordos ensinamentos
e aí vai ela:

"
viva dizer não ao escrever para acumular trocentas obras !
não aos que provocarem a avalanche bibliotecária,
das estantes gigantes com o mesmo nome em cada página;
que afogam os pesadelos ,
e deixam tranqüilo às noites,
impedindo os magníficos choros debaixo do lençol,
quando, enrodilhados, trincamos os dentes inconscientes!

não!
viva a escrita que se faz arquitetura de aviões de papel!
atirar bolas de literatura na cara dos transeuntes,
irritar-lhes os olhos com o vapor de tinta fervente:
guerra de letras!
escrita de gastar,
para construir uma montanha de livros - e queimá-los numa orgia descritiva!

escrever nas paredes!
escrever na areia da beira-mar - vou escrever a recherche inteira enquanto procuro tatuís!
escrita de pegadas a serem levadas pelo tempo;
e que se danem essas imortalidades acumulativas,
porque com mais de trinta segundos de tinta secando elas já são palavras velhas e conservadoras, inimigas da vida saltitante e irritante das canetas ágeis!

e dane-se o escrituramento-sustentável!
um nada de produção!
seremos inúteis - e abaixo o conceito de utilidade dos economistas tolos!

ah, e quando velhos,
com mil anos nos olhos,
olharemos para trás e veremos um enorme incêndio.
uma vida que seja um incêndio de páginas!
alguns querem olhar para trás e ver um tapete de folhas de papel, e enxergar o mundo em termos de papel, e adorar o papel-deus, que lhes permeia os olhos tornando o mundo inteiro texto; ah!
enquanto aquilo que nos dá fogo aos olhos,
e eu garanto, dá fogo às próprias idéias que nos conectam imagens mentais em seu samba literário;
é o incêndio!
escrita-incêndio!

a escola literária baseada na fumaça!
dos grandes escritores viciados em cigarros,
que só se sentem felizes fumando seus livros densos,
e em vez de tabaco fumaremos letras,
e seremos um bando de infinitos,
atirados a esmo pela superfície do globo,
enquanto este se auto-afunda,
numa grande desescrita miraculosa que fundará a nova bíblia e a nova era de desinvenção."

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