Tenho medo do vento. Pare, vento, de soprar tão forte! As árvores vergam, levadas pelos seus chumaços de folhas, como velas de navio. Não, são os navios que as imitam. Pare, vento, de soprar tão forte! De estalar a casa, e apertar as portas, as janelas. Deixe o que está quieto, estar! Deixe estar! Pare, deus do vento, ó, deus do vento. Parece sempre que tem gente aí. E não terá? Vento! Que susto você me dá! Não consigo o sossego com você soprando! E a casa toda em ruídos. Movimentos. Que fantasmas voam por aqui? E se, e se é certo, e se é justo o inverso, e se são as árvores a soprar e dizer, a espirrar em nós, afoitas e com seus galhos carregam o ar e nos cobrem? O som parece a chuva, tocando gotas nas mil folhas. Mas vem em ondas, emergências, urgências. Como se houvesse Algo que se pudesse fazer. Me deixa à espreita, alarmado, esperando. Esperando nada. Com medo. Medo do vento que sopra tão forte que uiva. Que bate portas e derruba árvores. Que vem do céu! a raiva dos ares. É só o ar, escorrendo de um lado a outro? É mais. É um medo na terra. Um medo do vento que vem invisível com seus dedos de frio nos assustar da cama para esperar, em prontidão, que ele se vá. Que o ar se acalme, que o invisível largue suas raivas e se acomode. Oxalá seja logo. Oxalá dure pouco. E se escrevo, peço, que seja logo. Que o vento volte a dormir, e eu possa, novamente, dormir.

Nenhum comentário: