Procuro, procuro, a palavra certeira, a frase, o ponto exato do corte-começo do texto. Por onde o que é plano se torna Linha, sucessão,
desenvolvimento, Combustão.

Feito o furo, é só seguir seu percurso, o pior já está feito. Um corte, a caneta fura o papel de repente e a tinta começa a jorrar.

Mas onde deve ser lançado? Onde o furo, onde a brecha, a falha que permite entrarmos, picareta em punho, dentro do quadro?

Estou sentado, pensamentos ao vento, nuvens passam e eu atento, com minha armadilha de pescador.

Lancei um anzol no céu, pra pescar o sol - e de quando em quando, me sobressalto, faço menção de bater a faca: é ali!

mas não, o momento se esvai, ou nada pior que resvalar o cinzel na pedra, riscar o duro. Tomado o ponto falso,

a caneta quebra, a ideia morre... procuro, procuro, o tema, o contorno, a figura falhada que rebenta num fio de pedaços,

tornar-se então isto, um percurso, um gesto, uma jogada de corpo no abismo, um desfiar da nuvem em novelo, algodão,

e esticá-lo, e cozê-lo, tessitura do texto.

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