a terra dentro da terra
enterrar o planeta
desperto,
o fio de palavras rompe a superfícies escorrendo dos gasosos lençóis de sonho como nascente, cortando a paisagem com seu filete:
lembranças encadeadas, se ramificando, empoçando, turbilhonando contidas em grandes barragens e obstáculos ao pensamento...
Se pensar é singrar paisagens, se narrar é percorrer um caminho apontando os acidentes do terreno (suas frestas, seus perigos) para conduzir o viajante -
mas acima de tudo é uma incursão, ainda que conhecedora, cartografando para os outros:
é sempre uma primeira vez:
a jogada de corpo no pensamento.
Ponho-me agora a pegar com os dedos os rastros de outrora: meus próprios rastros.
A bússola que oswalde desenhou me guiou a uma terra incógnita e lá mergulhei, eu me perdi. Mas o segundo momento será já a deglutição de si...
o fio de palavras rompe a superfícies escorrendo dos gasosos lençóis de sonho como nascente, cortando a paisagem com seu filete:
lembranças encadeadas, se ramificando, empoçando, turbilhonando contidas em grandes barragens e obstáculos ao pensamento...
Se pensar é singrar paisagens, se narrar é percorrer um caminho apontando os acidentes do terreno (suas frestas, seus perigos) para conduzir o viajante -
mas acima de tudo é uma incursão, ainda que conhecedora, cartografando para os outros:
é sempre uma primeira vez:
a jogada de corpo no pensamento.
Ponho-me agora a pegar com os dedos os rastros de outrora: meus próprios rastros.
A bússola que oswalde desenhou me guiou a uma terra incógnita e lá mergulhei, eu me perdi. Mas o segundo momento será já a deglutição de si...
alar-se sem cair no anjo
quando me nascerem asas como
mãos de pássaro
me envolvendo meu
e subindo
duas profundas mãos se me saindo
costas afora
como expelir o demônio-anjo por trás
da nuca dos ombros do
ponto cego completo, de mim: é dali
que sobe esta leveza poderosa
imperial de
cabelos soltos bonitos ao vento
e cá dentro o alívio sustentado
suspendido
encontrar meu elemento ar não por olhos luz e desejo
mas pelo não ver só soltar-me deixar-me acreditar-me ser-me sem segurar-me confiar-me em mim
quase aquela brincadeira de se deixar cair e o outro tem de segurar que é pra sentir que confia.
"já tínhamos o anjo! era meu corpo alado"
mãos de pássaro
me envolvendo meu
e subindo
duas profundas mãos se me saindo
costas afora
como expelir o demônio-anjo por trás
da nuca dos ombros do
ponto cego completo, de mim: é dali
que sobe esta leveza poderosa
imperial de
cabelos soltos bonitos ao vento
e cá dentro o alívio sustentado
suspendido
encontrar meu elemento ar não por olhos luz e desejo
mas pelo não ver só soltar-me deixar-me acreditar-me ser-me sem segurar-me confiar-me em mim
quase aquela brincadeira de se deixar cair e o outro tem de segurar que é pra sentir que confia.
"já tínhamos o anjo! era meu corpo alado"
e então
a liberdade do
centro nevrálgico interseção encruzilhada
meu umbigo de costas meu nó
nos pilares do diafragma, na base das costelas lá atrás
- desatá-lo -
deixar-me subir o alívio
a leveza com ombros plantados
são na verdade asas que se abrem me expandindo
descomprimindo desoprimindo
que o centro das tensões é psico-físico
é ele-mesmo um nó mental
que desato
eu desato.
a liberdade do
centro nevrálgico interseção encruzilhada
meu umbigo de costas meu nó
nos pilares do diafragma, na base das costelas lá atrás
- desatá-lo -
deixar-me subir o alívio
a leveza com ombros plantados
são na verdade asas que se abrem me expandindo
descomprimindo desoprimindo
que o centro das tensões é psico-físico
é ele-mesmo um nó mental
que desato
eu desato.
a utopia?
não é que ela não esteja em nenhuma parte
ela não é parte, ela não é de estar.
inlocalizável
abolido espaço
horizonte, paradigma do passo
voltar à utopia, mas incluir nela
o dinheiro, e daí desníveis
coordenadores e coordenados? rupturas?
e daí incluir nela
a maldade, e ser mau e não sê-lo
(a utopia não é só teu seio, teu colo farto
ela também é lágrima dor, navalha)
terá na utopia
(se é que se pode dizer "na" abolição do lugar)
também o tempo? ela é parada ou se move?
ou é uma transformação de distopias;
terá contradições na utopia?
terá o fim? a morte, o medo?
e de que serve a utopia?
se não tem nada disso, se é a só-metade
ela é mulher? é mãe?
não é... ela não tem o verbo ser
abismo na beirada do pensamento
sem chão nem céu
(também não é um vácuo, atração maior
do irreal)
não é que ela não esteja em nenhuma parte
ela não é parte, ela não é de estar.
inlocalizável
abolido espaço
horizonte, paradigma do passo
voltar à utopia, mas incluir nela
o dinheiro, e daí desníveis
coordenadores e coordenados? rupturas?
e daí incluir nela
a maldade, e ser mau e não sê-lo
(a utopia não é só teu seio, teu colo farto
ela também é lágrima dor, navalha)
terá na utopia
(se é que se pode dizer "na" abolição do lugar)
também o tempo? ela é parada ou se move?
ou é uma transformação de distopias;
terá contradições na utopia?
terá o fim? a morte, o medo?
e de que serve a utopia?
se não tem nada disso, se é a só-metade
ela é mulher? é mãe?
não é... ela não tem o verbo ser
abismo na beirada do pensamento
sem chão nem céu
(também não é um vácuo, atração maior
do irreal)
reduzir-me
ao simples amor ao sol
e à pele e plantas
uma muda
em meio à ruína do mundo
rachando, desmoronando
é talvez a saída, o último
bastião que resta
(ou nem resta)
baixar a bola
expandir-me nesse pequeno amor...
é prescindir da ambição
que nos preenche o fundo
o céu da alma
(como tem um céu da boca)
de virar a onda
de reverter, de
instaurar
o grande corpo de amor do mundo.
e oscilamos, nessa ambição
e nessa contenção
esperando poder fluir, escorrer
canalizar-nos sem fugir
mas sem carregar o nada nas costas
sonhando a tomada das ruas
sonhando o sol
por toda a pele do chão
primavera
(meu casaco encostado)
ao simples amor ao sol
e à pele e plantas
uma muda
em meio à ruína do mundo
rachando, desmoronando
é talvez a saída, o último
bastião que resta
(ou nem resta)
baixar a bola
expandir-me nesse pequeno amor...
é prescindir da ambição
que nos preenche o fundo
o céu da alma
(como tem um céu da boca)
de virar a onda
de reverter, de
instaurar
o grande corpo de amor do mundo.
e oscilamos, nessa ambição
e nessa contenção
esperando poder fluir, escorrer
canalizar-nos sem fugir
mas sem carregar o nada nas costas
sonhando a tomada das ruas
sonhando o sol
por toda a pele do chão
primavera
(meu casaco encostado)
O amazonas
Quando o amazonas corria para dentro, dessalinizando o mar
- hipótese de haver havido o matriarcado das amazonas -
afinal os maias foram basicamente perdidos
- hipótese de haver havido o matriarcado das amazonas -
afinal os maias foram basicamente perdidos
Verão
Nada parecia mais calmo do que aquele grupo de banhistas tomando sol na praia, meio-dia leve brisa e o mar azul azul azul quando os rangidos da areia esmigalhada sob o pêso dos corpos tornaram-se de repente mais audíveis do que o farfalhar das folhas. Não havia uma nuvem no céu e a baía coalhava de barquinhos, quando mãos imensas romperam a superfície do chão, tragando cangas e braço-perninhas etc. No local só restou um cachorro - cruza de poodle com tapete branco - latindo alarmado: isso não se faz. Dentro, os amigos entreeolhavam-se mudos num imenso salão subterrâneo, enquanto o gigante sorria dentes do tamanho de espaçonaves, afiando talheres para seu churrasco. Infelizmente, não havia saída, nem entrada para os que não sabiam mergulhar no sólido arenoso. Marias-farinha, tatuís, raízes de coqueiro: quando o gigante cortou o dedo e fugiu gritando, coube aos nossos náufragos montar um elevador de bambu e palha, e retomar o lagarteamento litorâneo. Verão.
receptividade
eu digo sim
uma planta verde, o caule
vicejando verde verde que
não quebra, elástico
cresço uma alegria amarela,
meu sol da barriga redonda
eu sou um mundo donde
crescem quatro pernas e
quatro braços. Minha seiva
corre de olhos úmidos, as folhas se abrindo
sim! virão machadadas, mas
com meu sol devoro a merda
como adubo para erguer-me
pináculo de seiva verde
lião de vento
trepadeira
como são feitos os dias?
desperto, enrolado nos lençóis de tempo
camadas geológicas se amassam nesse sono inconstante
refluxo do rodamoinho da cama
eu pisco e sou de novo já quem fui dez anos atrás. A página virada
deu a volta, quem diria?
Será esse livro
um caderno de espiral - talvez os relógios são bem certos
com seu eixo no meio. O tempo volta. Tou à beira do comêço dessa vida.
Tava vivendo mas - a página foi, virou.
O tempo muda.
Afastei o cobertor, o quarto
voltei ao travesseiro. Eu sou de novo.
Eu posso?
desperto, enrolado nos lençóis de tempo
camadas geológicas se amassam nesse sono inconstante
refluxo do rodamoinho da cama
eu pisco e sou de novo já quem fui dez anos atrás. A página virada
deu a volta, quem diria?
Será esse livro
um caderno de espiral - talvez os relógios são bem certos
com seu eixo no meio. O tempo volta. Tou à beira do comêço dessa vida.
Tava vivendo mas - a página foi, virou.
O tempo muda.
Afastei o cobertor, o quarto
voltei ao travesseiro. Eu sou de novo.
Eu posso?
Mas se a
casa é um navio
Então – e a
vida
Esse turbilhão
de mares ao nosso redor
Ah o tempo!
Que mau
tempo
A tempestade
Eu que nunca
saí de barco
A singrar
mares, eu
Que nunca li
os ventos
Eu que temo
A ventania,
quando sopra
Ainda assim,
Como a
escrita que singra o vazio
Esta casa
arrojada, empina-se
Eu marinheiro,
lhe ato cordas
Enfuno velas,
Encho a
geladeira de comidas
Ah!
O almoço é grande
Eu? sou um sangue
tinta vermelha
tinta vermelho escuro
tinta de carne
uma pilha de cartuchos vazios com restos de tinta
empilhados
vidrinhos de tinta
potinhos plásticos
garrafinhas várias
da tinta que nunca usei
sedimentados num canto do quarto
enterrados na carne
pendendo, juntando
como uma poça d'água escorrega
para dentro da cama
tinta vermelha
tinta vermelho escuro
tinta de carne
uma pilha de cartuchos vazios com restos de tinta
empilhados
vidrinhos de tinta
potinhos plásticos
garrafinhas várias
da tinta que nunca usei
sedimentados num canto do quarto
enterrados na carne
pendendo, juntando
como uma poça d'água escorrega
para dentro da cama
Procuro, a brecha, a falha na parede,
na rocha rija que nos impede o gozo,
o vão em que me enfio,
corpo e alma, cunha humana,
cinzel para abri-la e vê-la jorrar.
Completo estou, de fantasmas serenos,
que mais valia partilhar, estendê-los em varal
pelo mundo, em sua trama de arames
que impede a rocha de se fechar.
Mais urgente então, encontrar o ritmo,
e, aos solavancos, fazê-los sair,
um a um: vesti-los de letras, estátuas de tinta,
cristais duros que se encaixam,
tomam rumo, formam-se mosaico
e quebra-cabeça. Nenhum nexo
estas letras em solto, mas o que aprendi:
expandir, multiplicar, deixar o duro ritmo das estacas
tomar conta, e a trama, impossível,
se deixará formar.
na rocha rija que nos impede o gozo,
o vão em que me enfio,
corpo e alma, cunha humana,
cinzel para abri-la e vê-la jorrar.
Completo estou, de fantasmas serenos,
que mais valia partilhar, estendê-los em varal
pelo mundo, em sua trama de arames
que impede a rocha de se fechar.
Mais urgente então, encontrar o ritmo,
e, aos solavancos, fazê-los sair,
um a um: vesti-los de letras, estátuas de tinta,
cristais duros que se encaixam,
tomam rumo, formam-se mosaico
e quebra-cabeça. Nenhum nexo
estas letras em solto, mas o que aprendi:
expandir, multiplicar, deixar o duro ritmo das estacas
tomar conta, e a trama, impossível,
se deixará formar.
Procuro, procuro, a palavra certeira, a frase, o ponto exato do corte-começo do texto. Por onde o que é plano se torna Linha, sucessão,
desenvolvimento, Combustão.
Feito o furo, é só seguir seu percurso, o pior já está feito. Um corte, a caneta fura o papel de repente e a tinta começa a jorrar.
Mas onde deve ser lançado? Onde o furo, onde a brecha, a falha que permite entrarmos, picareta em punho, dentro do quadro?
Estou sentado, pensamentos ao vento, nuvens passam e eu atento, com minha armadilha de pescador.
Lancei um anzol no céu, pra pescar o sol - e de quando em quando, me sobressalto, faço menção de bater a faca: é ali!
mas não, o momento se esvai, ou nada pior que resvalar o cinzel na pedra, riscar o duro. Tomado o ponto falso,
a caneta quebra, a ideia morre... procuro, procuro, o tema, o contorno, a figura falhada que rebenta num fio de pedaços,
tornar-se então isto, um percurso, um gesto, uma jogada de corpo no abismo, um desfiar da nuvem em novelo, algodão,
e esticá-lo, e cozê-lo, tessitura do texto.
desenvolvimento, Combustão.
Feito o furo, é só seguir seu percurso, o pior já está feito. Um corte, a caneta fura o papel de repente e a tinta começa a jorrar.
Mas onde deve ser lançado? Onde o furo, onde a brecha, a falha que permite entrarmos, picareta em punho, dentro do quadro?
Estou sentado, pensamentos ao vento, nuvens passam e eu atento, com minha armadilha de pescador.
Lancei um anzol no céu, pra pescar o sol - e de quando em quando, me sobressalto, faço menção de bater a faca: é ali!
mas não, o momento se esvai, ou nada pior que resvalar o cinzel na pedra, riscar o duro. Tomado o ponto falso,
a caneta quebra, a ideia morre... procuro, procuro, o tema, o contorno, a figura falhada que rebenta num fio de pedaços,
tornar-se então isto, um percurso, um gesto, uma jogada de corpo no abismo, um desfiar da nuvem em novelo, algodão,
e esticá-lo, e cozê-lo, tessitura do texto.
Tenho medo do vento. Pare, vento, de soprar tão forte! As árvores vergam, levadas pelos seus chumaços de folhas, como velas de navio. Não, são os navios que as imitam. Pare, vento, de soprar tão forte! De estalar a casa, e apertar as portas, as janelas. Deixe o que está quieto, estar! Deixe estar! Pare, deus do vento, ó, deus do vento. Parece sempre que tem gente aí. E não terá? Vento! Que susto você me dá! Não consigo o sossego com você soprando! E a casa toda em ruídos. Movimentos. Que fantasmas voam por aqui? E se, e se é certo, e se é justo o inverso, e se são as árvores a soprar e dizer, a espirrar em nós, afoitas e com seus galhos carregam o ar e nos cobrem? O som parece a chuva, tocando gotas nas mil folhas. Mas vem em ondas, emergências, urgências. Como se houvesse Algo que se pudesse fazer. Me deixa à espreita, alarmado, esperando. Esperando nada. Com medo. Medo do vento que sopra tão forte que uiva. Que bate portas e derruba árvores. Que vem do céu! a raiva dos ares. É só o ar, escorrendo de um lado a outro? É mais. É um medo na terra. Um medo do vento que vem invisível com seus dedos de frio nos assustar da cama para esperar, em prontidão, que ele se vá. Que o ar se acalme, que o invisível largue suas raivas e se acomode. Oxalá seja logo. Oxalá dure pouco. E se escrevo, peço, que seja logo. Que o vento volte a dormir, e eu possa, novamente, dormir.
No início só havia gado e galinhas
tudo era prédio, a perder de vista
enorme massa de concreto, e criadouros
dos animais comestíveis. Eis que
principiou a decadência, novas
galinhas transgênicas, voavam, piavam
faziam ninho no topo do edifício
que por sua vez ruía, virava areia. O mar
apareceu dum enorme vazamento
na fábrica de água. Um cano estourado
para horror dos ambientalistas. E o desastre
somente aumentava, e derrubava
parte dos quarteirões bem-alinhados. A praia
começou na portaria, e foi crescendo.
Peixes de aquário fugidos, viraram tubarões,
antes produtos kitsch, de brilhar no escuro.
Muitos robôs perdidos
e corroídos, perigosos, contribuíram
para a selva. Ferrugem, energia solar,
mais uns quantos em coma, vegetativos,
cresceram musgo e fotossíntese, corpos dormentes,
daí veio as árvores. E as galinhas,
de bico cortado, fugiram
nos mais variados estilos, umas
de asa grande, outras correndo, nadando
sobre dois pés, as mais altas,
já nem cacarejavam, riam
os ovos chocando do lado de dentro
criando nos ninhos, de palha, paredes,
até criarem domésticos, uns animais
humanos, de engordar
e comer.
tudo era prédio, a perder de vista
enorme massa de concreto, e criadouros
dos animais comestíveis. Eis que
principiou a decadência, novas
galinhas transgênicas, voavam, piavam
faziam ninho no topo do edifício
que por sua vez ruía, virava areia. O mar
apareceu dum enorme vazamento
na fábrica de água. Um cano estourado
para horror dos ambientalistas. E o desastre
somente aumentava, e derrubava
parte dos quarteirões bem-alinhados. A praia
começou na portaria, e foi crescendo.
Peixes de aquário fugidos, viraram tubarões,
antes produtos kitsch, de brilhar no escuro.
Muitos robôs perdidos
e corroídos, perigosos, contribuíram
para a selva. Ferrugem, energia solar,
mais uns quantos em coma, vegetativos,
cresceram musgo e fotossíntese, corpos dormentes,
daí veio as árvores. E as galinhas,
de bico cortado, fugiram
nos mais variados estilos, umas
de asa grande, outras correndo, nadando
sobre dois pés, as mais altas,
já nem cacarejavam, riam
os ovos chocando do lado de dentro
criando nos ninhos, de palha, paredes,
até criarem domésticos, uns animais
humanos, de engordar
e comer.
Duvida que eu faça um poema?
É assim: teu sorriso gira.
Alguns dizem que é a meia-lua rindo
a simples beirada da lua cheia - eu não.
Sei bem que está ali escondido
um círculo inteiro
rodopiante redemoinho
engolindo navios desavisados;
e que seus olhos são dois torvelinhos
infindos que o cercam;
e fico eu navegando
nos oceanos irrequietos
girando, porque seu sorriso
é a lua cheia escondida
me tragando e me engolindo.
É assim: teu sorriso gira.
Alguns dizem que é a meia-lua rindo
a simples beirada da lua cheia - eu não.
Sei bem que está ali escondido
um círculo inteiro
rodopiante redemoinho
engolindo navios desavisados;
e que seus olhos são dois torvelinhos
infindos que o cercam;
e fico eu navegando
nos oceanos irrequietos
girando, porque seu sorriso
é a lua cheia escondida
me tragando e me engolindo.
ouvido duvida, ouviste a revista? ouriço ou eriça - o urina ouro...
- Olha, você ou viu, ou ouviu.
- Ou vi.
- Espera, você ouviu ou viu? Ou ouviu ou viu! Ou viu ou ouviu - ou viu - ou ouviu; ou viu ou ouviu ou viu ou ouviu ou viu ou ouviu ou viu ou ouviu ou viu -
- Chega que eu intuo tudo telepaticamente
- Ou vi.
- Espera, você ouviu ou viu? Ou ouviu ou viu! Ou viu ou ouviu - ou viu - ou ouviu; ou viu ou ouviu ou viu ou ouviu ou viu ou ouviu ou viu ou ouviu ou viu -
- Chega que eu intuo tudo telepaticamente
o profeta do prefeito
feitura pura do enfeite
infectado de defeitos "afetuosos"
- confete na confeitaria
infectado de defeitos "afetuosos"
- confete na confeitaria
consumo, eu quasi sumo
é o quasi çumo
nós quasi sumo... o quê?
- eu conçumo, tu preçumes, ele çume
- tu preZumes, com 's'
- eu açumo, tu reçume
- reZume!
- eu cumo tu comes ele recome
- eu como e recomo, me diz, como?
(interrompendo)
- olha aqui vocês vão parar com essa PALHAÇADA senão eu janto e sobremeso os dois
é o quasi çumo
nós quasi sumo... o quê?
- eu conçumo, tu preçumes, ele çume
- tu preZumes, com 's'
- eu açumo, tu reçume
- reZume!
- eu cumo tu comes ele recome
- eu como e recomo, me diz, como?
(interrompendo)
- olha aqui vocês vão parar com essa PALHAÇADA senão eu janto e sobremeso os dois
um leão branco leitoso correndo em meio um tufão de animais leitosos mármore de vida branca quasi plantas, eu no jardim desta mansão imensíssima de que desenho os quartos; elis passão por mim eu deixo um dálmata e mais outras cair dos meus braços pa que a turba a leve rodopiando.
bate o sino, é hora, é hora d'algo
bate o sino, é hora, é hora d'algo
a dúvida divide em dívidas
(doidivana dádiva vívida da vida)
vêm as dúvidas, como zumbidos
vocejando em meu entorno e a tudo levantando
lívidas, erínias, mínimas deusas diablitas
a gorgorejar o paz de esprírito
vade-rectum! lhes desinvoco
descobrir-lhes mudas ao simples
descer das pálpebras e
lavar o céu dos olhos
(doidivana dádiva vívida da vida)
vêm as dúvidas, como zumbidos
vocejando em meu entorno e a tudo levantando
lívidas, erínias, mínimas deusas diablitas
a gorgorejar o paz de esprírito
vade-rectum! lhes desinvoco
descobrir-lhes mudas ao simples
descer das pálpebras e
lavar o céu dos olhos
coreografia
acorda
a cor
do corpo,
o acordo
recorda
a coragem
corada
da cor
decora
o couro
do coro,
a cura e a
secura
do coração
quero a cara do carinho, o coração e o coracinho
a querida coroa, a cárie coroada, o coringa! curare
a cor
do corpo,
o acordo
recorda
a coragem
corada
da cor
decora
o couro
do coro,
a cura e a
secura
do coração
quero a cara do carinho, o coração e o coracinho
a querida coroa, a cárie coroada, o coringa! curare
nem garfadas nem garbruxas, um leito de almafadas e alfáceis úlmidas
almafácida, como algema de ovo
algemidos de gelar o osso
um tecido almofadado, calmo, clamufado - clamores abafadados
fada da alma, féerica alma da almofada, alfado da almoface
algumofada bruxa da broxada, minha ochecha echonchuda
plantei alface mas deu difíce
fácil fécil fícil ou difícil? misturado, difácil e físsil
um apartamento lá no fundo da terra
era estação de sismos então máquina do tempo e tudo
cheia de monstrinhos de outra imaginação
você descia por uma hora, um tempo grande
com a chuva já era frio e cheio de rios e mergulhos
(engraçado não ter lembrado jules verne)
lá embaixo tomar banho quente, uma casa num lago raso, piscina e bom
era estação de sismos então máquina do tempo e tudo
cheia de monstrinhos de outra imaginação
você descia por uma hora, um tempo grande
com a chuva já era frio e cheio de rios e mergulhos
(engraçado não ter lembrado jules verne)
lá embaixo tomar banho quente, uma casa num lago raso, piscina e bom
anuncio o cio, negocio
anuncie o cio
a saia anseia a sua ânsia, o cio cia
esse sinal sem seio
o seu asseio
a saia anseia a sua ânsia, o cio cia
esse sinal sem seio
o seu asseio
- Cadê o chiclete? Tem mais um?
- Você chupou!
Andam um pouco, pirracentos
- Esse chiclete tem pimenta!
Três garotinhos vêm subir a mangueira carregada que dá sombra às mesas da lanchonete. A mãe lhes deu, a cada um, um pacotinho colorido de salgados, e eles escolhem orgulhosos o galho onde vão comer.
- Melhor subir sem chinelo! Você vai subir sem chinelo?
- Você chupou!
Andam um pouco, pirracentos
- Esse chiclete tem pimenta!
Três garotinhos vêm subir a mangueira carregada que dá sombra às mesas da lanchonete. A mãe lhes deu, a cada um, um pacotinho colorido de salgados, e eles escolhem orgulhosos o galho onde vão comer.
- Melhor subir sem chinelo! Você vai subir sem chinelo?
curvo-me ante a beleza da anarquia de outrora
era real nestes campos da palavra
quem sabia, eu acreditava
agora vejo invejoso
me rôo de gula ante a fábrica imersiva de outrora
os dias dedicados à simples brinca
sem privilégio aos outros, sem submissão
a palavra livre a correr como espada de uma liberdade perseguida
hoje vejo espuma sair-me
tão viciado nas colagens, no redito
só posso sonhar um dia voltar ao já escrito
só posso sonhar - que hoje eu tanto construo
tento criar um mundo, sair lá fora
e mudar
antes tão verdadeiro
hoje eu odeio de haver o dinheiro, mas não lhe cedo
não me curvo e permito que outros mo dêem
não, eu plantarei meu próprio dinheiro
engolir a revolução para que ela frutifique nos outros
a revolução deve ser interna e externa
a revolução nasce nas varandas
na sacada do primeiro andar
não se basta num quarto dentro de um quarto dentro de um quarto
num computador
a revolução acontecerá e na palavra só restarão suas pegadas
era real nestes campos da palavra
quem sabia, eu acreditava
agora vejo invejoso
me rôo de gula ante a fábrica imersiva de outrora
os dias dedicados à simples brinca
sem privilégio aos outros, sem submissão
a palavra livre a correr como espada de uma liberdade perseguida
hoje vejo espuma sair-me
tão viciado nas colagens, no redito
só posso sonhar um dia voltar ao já escrito
só posso sonhar - que hoje eu tanto construo
tento criar um mundo, sair lá fora
e mudar
antes tão verdadeiro
hoje eu odeio de haver o dinheiro, mas não lhe cedo
não me curvo e permito que outros mo dêem
não, eu plantarei meu próprio dinheiro
engolir a revolução para que ela frutifique nos outros
a revolução deve ser interna e externa
a revolução nasce nas varandas
na sacada do primeiro andar
não se basta num quarto dentro de um quarto dentro de um quarto
num computador
a revolução acontecerá e na palavra só restarão suas pegadas
o que ouve no ouvido
a tua testa me testando
os pés pesados me pisando
peitos pintados me peitando
a tua pele, pelada, pelando
não me queixo
olho o olho
(toda língua passa pelo corpo)
a língua do linguado
e ela na goela
coloração
linda coração da cor
"tantas palavras que sufocam
nem dá vontade de sentir porque nem parece meu
sou invadido de emoções clichês, entro nesse território de que já se disse tanto, que antes mesmo de entrar já sei, já sei de tudo, já sei do não saber;
festa da linguagem repisando tudo!
e me vendendo doces que não quis comprar
eu, que sempre amei aquelas as que menos palavras tinham
sempre me divertia justo quanto menos entendia
e agora todos sabem
e agora todos podem dizer, e é isto, e é aquilo
e esta agonia de não conseguir sentir em paz
porque é muito difícil ser original
quando tudo que faço entrou em seus termos mais literariamente óbvios
e tudo tão previsível
que meus rumos nem já são meus
são dessa vontade alheia, óbvia, externa
e quanto mais me sinto joguete, títere
me irrita, e nem consigo mais falar
afogado nessa rede de fofocas interminável
quando tudo que sonho se passa sempre fora do discurso
e minha felicidade se dá nesse passar à linguagem
esse parto que é o batismo das novas dores que ninguém jamais sentiu
mas hoje só sinto o usual, só piso pegadas já pisadas"
O indivíduo nessa condição não é como um motor que funciona perfeitamente até que se acabe o combustível e pára de funcionar; é mais parecido com um carro velho que por vezes funciona de maneira adequada, apresenta deficiências, melhora e, depois, deteriora profundamente seu funcionamento e assim vai indo de maneira inconstante.
te vi esticando a roupa na janela
eu pendurei um lençol e vi
como um espelho você era eu de longe
me vendo esticar lençol e vi
como um espelho sua janela de vidro igual
irmã de nós e eu era o ar
voando como seu nome quando
eu te chamava feliz
cada pessoa é um espelho possível porque
se eu ponho um espelho ali meus olhos entram pelos olhos dela
eu pendurei um lençol e vi
como um espelho você era eu de longe
me vendo esticar lençol e vi
como um espelho sua janela de vidro igual
irmã de nós e eu era o ar
voando como seu nome quando
eu te chamava feliz
cada pessoa é um espelho possível porque
se eu ponho um espelho ali meus olhos entram pelos olhos dela
quando o prédio deitou eu andei até a varanda ao lado
com a tesoura de jardineiro abri caminho na rede-para-suicídio-involuntário
mas não tinha ninguém dentro
o prédio deitou para dormir, se cobrindo com lençol-de-obra
os vizinhos caminhavam sobre sua pele e se abra- çavam simpáticos
davam bom-dias baixinho pro elevador não acordar
com a tesoura de jardineiro abri caminho na rede-para-suicídio-involuntário
mas não tinha ninguém dentro
o prédio deitou para dormir, se cobrindo com lençol-de-obra
os vizinhos caminhavam sobre sua pele e se abra- çavam simpáticos
davam bom-dias baixinho pro elevador não acordar
tava funcionando por que-
ninguém tava ouvindo por que você tá me ouvindo?
você é a moeda que eu achei
que eu dei pro moço do carro
daí voltou você, na noite. tá errado...
eu tava só conversando mesmo e de repente eu vi que gostava bem
dei beijo que senão cê fugia toda que que acontece.
eu colho seu beijo com as mãos em concha
-meu beijo eram pontinhos perguntando
ela que disse
uma montanha de coisa descia do teto e terminava no pé de cadeira
você empurra e faz o som, da cadeira
ela foi na suécia e viu a primavera
depois de tanto frio
e eu moro numa gaiola dentro de uma gaiola
ela que disse
ninguém tava ouvindo por que você tá me ouvindo?
você é a moeda que eu achei
que eu dei pro moço do carro
daí voltou você, na noite. tá errado...
eu tava só conversando mesmo e de repente eu vi que gostava bem
dei beijo que senão cê fugia toda que que acontece.
eu colho seu beijo com as mãos em concha
-meu beijo eram pontinhos perguntando
ela que disse
uma montanha de coisa descia do teto e terminava no pé de cadeira
você empurra e faz o som, da cadeira
ela foi na suécia e viu a primavera
depois de tanto frio
e eu moro numa gaiola dentro de uma gaiola
ela que disse
Para voar
(espelho de fevereiro)
"I dreamed you were in Brazil. One day you arrived to stay at my place, you and ten other friends. It was very hard to provide beds for all.
Entonces salíamos.
El samba era un volcano en el medio de la ciudad. Nosotros tomábamos un taxi para una de sus lenguas de fuego, donde habría buena música y danza. Pero nos equivocábamos y salíamos lejos de la boca del volcano, donde estaba el carnaval en erupción. Caminábamos y la fiesta adentraba nuestros cuerpos, el calor...
Desperté en mi varanda, la luna lle-
(espelho de fevereiro)
"I dreamed you were in Brazil. One day you arrived to stay at my place, you and ten other friends. It was very hard to provide beds for all.
Entonces salíamos.
El samba era un volcano en el medio de la ciudad. Nosotros tomábamos un taxi para una de sus lenguas de fuego, donde habría buena música y danza. Pero nos equivocábamos y salíamos lejos de la boca del volcano, donde estaba el carnaval en erupción. Caminábamos y la fiesta adentraba nuestros cuerpos, el calor...
Desperté en mi varanda, la luna lle-
"...e ele mergulhou nas pálpebras cerradas dela. Ela dormia, mas em seu sonho foi tomada por um pêso e fechou os olhos. Ela não despertara, mas seu corpo agora via.
O homem desenhou então a dança negra da escrita diante daqueles olhos cegos. No sono, ela lia sem ver, e tudo ao seu redor nascia e lhe envolvia. Então sua boca abriu, e o mar cantou uma canção das profundezas. Os lábios do homem tremiam e suas mãos suavam, apaixonadas. O peito rugia. O coração se embriagava cantando, o amor sorria. O mar fazia amor dentro deles..."
O homem desenhou então a dança negra da escrita diante daqueles olhos cegos. No sono, ela lia sem ver, e tudo ao seu redor nascia e lhe envolvia. Então sua boca abriu, e o mar cantou uma canção das profundezas. Os lábios do homem tremiam e suas mãos suavam, apaixonadas. O peito rugia. O coração se embriagava cantando, o amor sorria. O mar fazia amor dentro deles..."
Regra N° 18: substituir todo "que" por mar
uma grande parte do dia
de hoje
distraí
tentava pôr ordem na
lembrança
aque foi sonho
aque foi eu
aque foi ela
de hoje
distraí
tentava pôr ordem na
lembrança
a
a
a
meussorvetinhodecreme...
esp era só eu a b rir a nov acalda de cho colat eque e ucomprei!
a nov acalda de cho esp era só eu a brir a nov acalda de cho
colat eque e ucomprei! a nov acalda de cho esp era só eu a brir
ah, meu
ssorvetinhodecreme...
speraassóeuaabrirranovacaudaadechcolatequeeeucomprei!
an ovaca auda d echospera sóeul a briranô vacal dadecho
colatequeeu comprei! comprei! comprei!! anovacaldade chouespéras só euabri r
a nov acalda de cho esp era só eu a brir a nov acalda de cho
colat eque e ucomprei! a nov acalda de cho esp era só eu a brir
ah, meu
ssorvetinhodecreme...
speraassóeuaabrirranovacaudaadechcolatequeeeucomprei!
an ovaca auda d echospera sóeul a briranô vacal dadecho
colatequeeu comprei! comprei! comprei!! anovacaldade chouespéras só euabri r
Olha eu sou quatro quilos mais velho que você, e dois anos mais alto. Não vale encolher a barriga! E nem adianta ficar na pontinha do pé, ouviu bem? Idade não se discute.
Tenho vinte e três anos: dois em cima, dois embaixo, seis que é só gurdura, tô devendo meia-dúzia e o que sobrou eu deixei em casa, lavando.
- Nossa, peguei uma idade que eu vou te contar! Não sara nunca!
- Ih essaí tá todo mundo pegando, não esquenta...
Tenho vinte e três anos: dois em cima, dois embaixo, seis que é só gurdura, tô devendo meia-dúzia e o que sobrou eu deixei em casa, lavando.
- Nossa, peguei uma idade que eu vou te contar! Não sara nunca!
- Ih essaí tá todo mundo pegando, não esquenta...
O homem é um microcosmos! Por assim dizer, um resumo da terra e como tal é guiado por leis imutáveis e eternas. Estou de acordo com essas idéias provadas pela ciência. Porém, há as erupções, há os cataclismas!
Ontem, berrei para Lalá:
- Defendo o direito das convulsões sísmicas!
Dorotéia é o meu Etna em flor!
Ontem, berrei para Lalá:
- Defendo o direito das convulsões sísmicas!
Dorotéia é o meu Etna em flor!
só não rima com a-
é febre, o meu calor
e o seu é pura cor
ou ardor
ou ar, ou dor
um céu em flor
não tenho nem onde pôr
e o seu é pura cor
ou ardor
ou ar, ou dor
um céu em flor
não tenho nem onde pôr
o céu é um chão
que só os olhos pisam
e você é um anjo
um anjo pedestre
descalça teus
olhos suados
pra não dar chulé
descalça esses
sapatos sem
horizonte
o céu não é um teto de pedra
não tem óculos nem
chão
é azul
(e um bolo apetitoso
de manhã)
intrometidinha
espionando
detrás do céu, os
astronautas voando
mergulha na cama e vê
os astro-nautas
de submarino
no fundo da noite
o céu é um mar raso
dá até pézinho
vem! a água tá morna
vem!
põe teus olhos de pato
e nada
pra cima, só nada.
que só os olhos pisam
e você é um anjo
um anjo pedestre
descalça teus
olhos suados
pra não dar chulé
descalça esses
sapatos sem
horizonte
o céu não é um teto de pedra
não tem óculos nem
chão
é azul
(e um bolo apetitoso
de manhã)
intrometidinha
espionando
detrás do céu, os
astronautas voando
mergulha na cama e vê
os astro-nautas
de submarino
no fundo da noite
o céu é um mar raso
dá até pézinho
vem! a água tá morna
vem!
põe teus olhos de pato
e nada
pra cima, só nada.
não sabe brincar?
o teu amor é meu
esconderijo
(atrás da cortina
debaixo da
cama)
só não vale ficar de altus
esconderijo
(atrás da cortina
debaixo da
cama)
só não vale ficar de altus
a praia
fui na tua boca tomar sol
brincar de castelinho
com teu amor de areia
ai e você
dentuça, a bóinha nos braços
pisando descalça
nas minhas juras
é uma praia nudista, baby
tire toda essa roupa
não sabe brincar?
brincar de castelinho
com teu amor de areia
ai e você
dentuça, a bóinha nos braços
pisando descalça
nas minhas juras
é uma praia nudista, baby
tire toda essa roupa
não sabe brincar?
<< Brinco de desenhar na pele de marcela, unir os pontos, ela diz: "como un mapa, los lunares serán las ciudades, este grande la capital". O pontilhado me lembra diagramas de corte de vaca - picanha aqui, a fraldinha sai do ventre, o lombo se chama contrafilé - como uma cartografia carnívora; mas o mapa vira um lago-espelho, quando as árvores têm dupla copa e não raízes: teu corpo, o desenho refletido das constelações do céu >>
- Las tres versiones de Judas,
BORGES
quando em desdizer as maravilhas que os filósofos de plantão choravam ao vento, lépidos
que tudo mentiras e vago ar, o vento soprava entre suas palavras ocas e as tiras de papel fatiado pela lâmina cega, coração desmesurado
quando em afogar-se em um mar de tato e novos olhos, e batizar-se surdo-mutismo por desejo, movimento mutista, mutante
eu trafegava meus próprios pés, na areia inexplorada, desenhando como pontas de dedos sobre faces inalcançadas, sonhos trêbados, trôpegos
um corpo construído em nós e soluços, em espremer-se contra um espelho, amassando manchas de gordura e carne na tela fina, na imagem retorcida e deformada, em si
nus e crus, despidos, quando o vento soprava trafegando entre árvores e prédios e nos invadia, pelas janelas, pelas portas entreabertas
lambendo nossas peles e nos limpando de tudo que não nós, de todos desenlaces fáceis, de todas as fugas
uma folha seca atirada contra o muro, esperneando para acordar gritando: vida
que tudo mentiras e vago ar, o vento soprava entre suas palavras ocas e as tiras de papel fatiado pela lâmina cega, coração desmesurado
quando em afogar-se em um mar de tato e novos olhos, e batizar-se surdo-mutismo por desejo, movimento mutista, mutante
eu trafegava meus próprios pés, na areia inexplorada, desenhando como pontas de dedos sobre faces inalcançadas, sonhos trêbados, trôpegos
um corpo construído em nós e soluços, em espremer-se contra um espelho, amassando manchas de gordura e carne na tela fina, na imagem retorcida e deformada, em si
nus e crus, despidos, quando o vento soprava trafegando entre árvores e prédios e nos invadia, pelas janelas, pelas portas entreabertas
lambendo nossas peles e nos limpando de tudo que não nós, de todos desenlaces fáceis, de todas as fugas
uma folha seca atirada contra o muro, esperneando para acordar gritando: vida
a escrita tem borracha demais,
queria máquinas de escrever
canetas tinteiro (sonho platônico, jamais lhes provei)
olhar um poema ver versos cortados, rimas apagadas refeitas
apagadas refeitas
uma grande estrofe de indecisão, toda suja,
as fibras do branco aparecendo, vincos, manchas empenadas
ver o processo nas palavras
um poema honesto
sem esse limpa-tipos infinitamente implacável
que é passar a limpo
(não quero às limpezas!)
o que é livro, palavra
só minhas mãos, os dedos (cansados) falam
apertar massa espalhar massa quebrar
vi tijolos quebrados no chão e pensei
quero quebrar tijolos, o que acontece, quais as formas
vi pedras no chão, quero pegá-las tocá-las
que palavras o que é palavra
tro-peçando dizen-do cada sílaba com esforço
com a língua mais interessada no ar e no apalpar o ar
do que nas letras desenhadas no som que som só quero
matéria
(um poema feito de argila)
pisca, página
recheada de pizza e
não-vai-me-vencer teimoso
(como uma que não dormia e só chorava, dando a volta ao mundo no barco, na sua barriga-tronco-peito-eu gêmea)
piscinas de óleo, escorrem, borbulham
sorrindo (piscam, estrelas de borracha)
bananas e lentilhas não tapam o
chão preto, a sombra
recorta bonita que linhas quebrando
vendo as formas dum paralelogramo e
os estilhaços do espelho quebrado
todo dia pisam num, são sete anos
mas o espelho espatifou e os cacos voaram
pequenos triângulos pelo quarto, eu os vejo por todo lado
da porta posso ver tudo de longe, as manchas se unem, e funciona.
recheada de pizza e
não-vai-me-vencer teimoso
(como uma que não dormia e só chorava, dando a volta ao mundo no barco, na sua barriga-tronco-peito-eu gêmea)
piscinas de óleo, escorrem, borbulham
sorrindo (piscam, estrelas de borracha)
bananas e lentilhas não tapam o
chão preto, a sombra
recorta bonita que linhas quebrando
vendo as formas dum paralelogramo e
os estilhaços do espelho quebrado
todo dia pisam num, são sete anos
mas o espelho espatifou e os cacos voaram
pequenos triângulos pelo quarto, eu os vejo por todo lado
da porta posso ver tudo de longe, as manchas se unem, e funciona.
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