rima

me vêm umas taras rimativas,
que me querem ritmo e compasso;
- minhas mãos se revoltam vivas,
não sei o porquê daquilo que faço.

engasgo, tusso, asco,
isso vai ser um grande fiasco;
mas me recuso a esconder,
eu vou rimar, vou aprender:



se rimbaud rima
rimo também
minha obra-prima
não soa bem

(aplausos)

poesia e verso: vou rimar
e só não posso rimar com ar:
ar vem trazendo de antemão
os acessórios da expiração
ventos, sopros, brisas
aéreas planícies indivisas

ar possui o som perverso
que inspiração, é a mentira
entra nos meus pulmões de verso
e rima com não! respira-expira

rimar com não é denegrir
rimar com verbo é ruir
infinitivo é fácil ver
que forma rimas de sofrer

quero uma rima muito nova
rima essa que dê sova
nas crianças do balanço
nas velhinhas cheias de ranço
no poeta morto enterrado
(rimar com ado é retardado)
nos versos cinzas de outrora
na minha cara feia e vermelha
que se espreme de dúvida e cora,
que se agasta de dúvida e espelha.

mas o sentido, onde fica,
nestas rimas descuidadas?
por que se muito tudo indica,
que estão todas perfuradas

queijo suíço, elas parecem
e o ar vagueia entre seus furos
rimando feio elas tecem
uns muros altos e escuros

rimar pra quê? já nem me lembro
eu nunca rimo, setembro-novembro!
não não não. mas eu cedo, cedo
- estou é morrendo de medo.

mas divertido, rimar a esmo
sem nem assunto, ficar falando
poema brusco, poema-mesmo
rima só serve a sair cantando

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