na superfície

ei, motorista! abre a porta
como no ponto? abre - a - porta
o ônibus tá parado! tamos a 1 metro do ponto
abre a porta, porra - por que você não abre a porta?
não vai abrir, ooi, abre a porta
sabe o que é isso? hein? tá me ouvindo?
eu sei o que é isso! (abre logo a droga da porta)
você tem é medo de mim, motorista (abre, abre)
medo. (tá me ouvindo?)
sabe, você acha que essa porta te livra de mim
que do alto do teu assento de piloto
teu mundo todo gira em eixos bonitos
bem longe do teu controle. só abre a porta no ponto.
você nem decide. (pelamordedeus aaabre)
eu parado aqui. sabe o que é isso?
você quer uma camisa de força, ouviu?
você tece com linhas de docilidade dos outros
com as linhas finas e maleáveis de todos dóceis
você não agüenta um fio de serpente irracionante
que te obrigue a abrir a maldita porta fora do ponto
que te obrigue a furar o padrão-rei da tua vida
ah, e não é que você seja dócil
como ficam dizendo os arrogantes dos nietzscheanos
não, você não é dócil, você não obedece
eu vou correr pro próximo ponto
e te pegar a tempo seu desgraçado
vou chegar sujo e suado
com ódio exalando
enxertar um pouco de pedestrismo no teu ponto
talvez eu corra a pé toda linha de ônibus
só pra te deixar louco.
sabe o que você é?
você engasga com linhas de sonho
que te cortem teu ônibus em dois, em três, em mil.
você se embola nelas, seu puto.
quando cruza com pessoas andando em música
quando quase atropela as pessoas ouvindo chão
você é chão, seu muito-certinho-determinado,
você se faz chão que o pé de todos pise
faz todos pisarem chão, teu ridículo
você é empata delírio, isso sim
piloto de uma nave empata-delírio.