torres (ainda rascunho)

quando em lamber as línguas divinas
que os deuses do vento sabiam dançar a nossos redores
meus membros de vela sonhavam-me outro: navio,
estalando inteiro em rangidos de cordame
sob a avidez súbita da vida em me ter;
e lançavam-me no longe, no infinito
embebido nos hálitos do mundo, pipa humana
úmido dos orvalhos da saliva aérea
que se me agarrava nestes cabelos esparsos
- atirados em formato de sol -
pelo topo de um monte chamado universo;
Eu me sabia antena telúrica, pétrea
do espasmo límpido de ondas e ondas de
cavalos alados preenchendo as bordas do céu,
e singrava mares de cor e aurora:
Saúdo-te, mundo tímido
que me vislumbre em duas minutas de tempo
e passe ligeiro, rumo a teus muitos reinos que conquistar.
Sonhava, os teus lábios massivos de fogo
em beijos largos aos azuis celestes de paixão;
as tuas faces enrubescidas de nuvem,
e risadas gratas descorridas na onipresença
por sobre neves roxas que me acordavam feito adeus.
Desfalecente em teu leito duro hostil
enrolava-me sereno, nos grossos cobertores
dessa abóboda radiante ou purpúrea
pátria efêmera de mil biologias gasosas;
e meu próprio hálito, intermitente
tanto pairava por sobre as vestes
como um fumo raro, fantasma bem-vindo
alertando-me dos preços gelados; meus olhos vazios
dardejados de lágrimas, estupefactos
como feras famintas a espreitar
flutuavam, impossíveis divagantes
deitando-me em colchões de nada
que apertar-me o peito, que abraçar-me
alheios às investidas pesadas do chão,
e soluçavam: Vento! deus da paisagem,
que quase perco, nas indistâncias findas
sem pó que te me fizesse sólido:
Lambe-me como se eu tivesse gosto
de vida, de simples existo, humildemente
lamber minha língua,
a roubar-te inteiro em meus pulmões de furto
encarcerar-te, nestas prisões ligeiras que sufoquem
que me fazem tua carne, Imensíssimo
no enxertar-me pelos teus braços largos
fazendo parte o meu próprio peito
dos teus membros infindos de tornado
ao respirar do teu vasto sangue, e eu borbulho
espumo como se, líqüido, pudesse tornar-te
mais Humano! e neste oceano
de cumes e áridos, colossos, ruínas
minha alma repousa, pesada deriva
poluindo possessa, com tantas palavras,
a tudo! doravante lembrado,
pisado ou rasgado: Lembrança! é teu nome.
E se me manchas a pele, me desenhas o rosto
marcando-me eternamente gasoso
com teus choros de espuma, teus cuspes, teus cortes
de que bebo ávido - perversamente incrustrado
como intruso, neste desfile febril -
navego altivo, Espelho inviável
da glória ímpar que me desferes
do brilho que me irrompes às bocas
em elas mesmas engolirem-te em recitais;
e se me tapas os ouvidos, arroganteante
com teus murmúrios lúgubres de espectro vago:
valho-me então de nomes, lançando-os a esmo
como espadas, em leque, a te louvar

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