maio

mas é claro que já não restam aviões!
comemo-los todos, no café.
e o céu vazio de aerófilos se distrai pensando:
por que não acordar as gentes a baldes d'água?
já é tarde - o sol se cansa de vomitar luz nessas tuas caras.

eu me vesti com galhos e penas,
enorme lança-chamas de fúria e erros -
desafiei as esquinas a me mostrarem com quantos leques de seda se constrói o moinho que gire, que gire que gire,
mas faltavam-me as engrenagens tortas que moer tantos lances de dados enviesados, caindo de quatro sob um destino falso:
e debaixo de uma chuva de folhas o outono se abriu.

eu me escondo atrás de arpões e navios
e toda uma enciclopédia de deuses marinhos
pronto a começar a moldar meu exército de argila
que esguichará dos ralos dos banheiros
e dos buracos das fechaduras (trancadas);
invadir as casas mais infelizas e cantá-las todas:
- fim da era do pão e do fósforo!

jamais saberemos de novo a arte divina de lamber os lábios de crocodilo que ocupam a própria alma destes embrulhos de celofane que me cercam, ditas pes-soas!
tempestadeando como mosquitas ou cerejos caindo em profusão -
mas eu era apenas um menino
no alvorecer de maio, borbulhante
e minhas mãos dedilhavam rolos de papel higiênico
com que cobrir o teto de suas igrejas de ópio
e deitar-lhes ébrios num abrigo ácido de doces e
enguias verdadeiras rastejando dentro de las ropas.

raiz do céu,
te batizo: maio!

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