adeus março
águas de março
de chuvas de lágrimas
em torrentes inundando tudo
e os bueiros engasgados
de tanto engolir mentiras
vão-se revirando, mordazes;
e em meio às enchentes
e enxurradas velozes
que nos arrastam para o longe, cortando laços
e levam embora cachorros, casas, pessoas
para nunca mais ver;
lá do fundo
das profundezas das ruas-rios
e do oco destes estômagos citadinos,
sobem bolhas
sobem balões de ar, jorrando do encanamento
verdades ocultas por tanto
e pipocam na superfície - já é difícil navegar
em meio a tantas ondas instáveis
e detritos boiando, esbarrando
essa montanha-russa que invadiu o cotidiano -
( mas eu e
mergulhos furtivos no escuro,
aproveitar a piscina gigante, bem-vinda
em meio à destruição )
águas de março
e outono
as folhas secam e caem
abrindo espaço à primavera

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