rasgo

minha voz
s'apertando, emburrada
muito se muito me maldizendo
de não voar mais em veloz
vestida de brancos
toda fantasma, pálida
quando subia da boca
nos grandes tempos
do frio que m'apertava o coração;

minha voz
pertada, ah tristura
de nem mais saber, esquecida
dos lábios molhados
garrando, a beijos ligeiros
tanta fumaça falsa
que floreasse no ar, à frente, bela
sujando narinas torcidas
tosses cinzas e muita solidão;

minha voz
que já se grita, enferma
endiabrada
por tantas idéias falsárias
quando em tudo
queria gritar eu te amo
deitar debaixo da árvore
da ponte, da vida
m'apaixonar mil vezes em novo
dizer não! não mesmo
a frio, a cigarro,
à massaroca de mentiras duras
em embrulho de mistério lindo
e vago
que enterrei debaixo do travesseiro
mas já nem reconheço minha cama
que deito e sonho ais! a noite inteira

voz,
que nem é minha
me assalta a cozinha, súbita
onde jamais esperei crimes;
te denuncio
solitária,
infeliz,
esquecer-te num dia qualquer
cortar-te fora, rasgar-te
preferia ser mudo a te ter tão traidora e
sombria.

Um comentário:

A. disse...

assustadoramente na quarta acordei rouco
e na quinta, absolutamente afônico