homem ao mar

"para onde correr, ao navio ou à praia?"
o outro encolhe ombros, resmunga qualquer coisa,
vira-se de costas.
o primeiro prossegue sua litania
como se ritmando o martelar do coração
palavras vãs reconfortando o silêncio impossível
de espera da chuva passar.
"quem sabe, devia meus últimos fôlegos
a alcançar a lisa popa
cheia de cracas e a escada de corda
que me salvar do mar revolto;
ou a distância já é tamanha
que meu rumo certo é mesmo o leste
sozinho, eu e meus braços,
para a costa estranha (e seca)?"
a chuva cai sobre ambos
mas enquanto um, indeciso
argumenta extenso sobre tudo e nada;
o outro, quieto, infinito
ocupa-se em secar as meias.
os dois atendem pelo mesmo nome
e conhecem a mesma resposta:
só quando a chuva parar.

enquanto isso, o barco vagueia nos pertos
e os braços vão cansando:
a chuva já vai parar

Nenhum comentário: